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Sou um homem correto

Por José Namboretti.

Estavam os dois elefantes a planejar o futuro, eles deviam celebrar casamento nos próximos dias, não longe da estação d e primavera. Hipopótamos, Zebras, assim como os demais animais viviam em plena paz. Era uma harmonia que só as margens do rio São Francisco proporcionavam.

 Zontelo, um dos raros homens na região, acordou tão alegre como todos os seres de lá. Naquela terra de tão longe, abençoada por Deus, todos acordavam com a felicidade, como se fosse carimbo estampado no rosto. Mas quem assim não acordasse, não devia nem de acordar, que continuasse a espreguiçar-se até encontrar o ponto certo de alegria. Levantou. Ensaiou os primeiros passos, andou. Cumpriu a agenda do dia. Sim, teria sido mais um dia alegre a deitar-se com o sol. O Sol cansado ia sumindo quando o fogo tomou conta. Devorava a floresta, impotente nada podia fazer, assistiu os animais que corriam desesperadamente. Búfalas, girafas, elefantes passavam por ele, mirando-o com olhar de acusação. Afinal quem dos animais poderia deitar lume na floresta? Eles eram incapazes. Só um homem inteligente como ele poderia fazer isso. Assim podia não proceder, mas para os outros animais era fato que aquele Zontelo era culpado pelo que estava acontecer. Não fosse ele, então tinha um irmão maldoso, que, sem piedade, tocou fogo na floresta. Ele tinha consciência de que não sendo ele, seu vizinho que havia agido de maneira criminosa.

“Bendito seja Deus, que me deu um irmão para com ele conversar, viver em comunidade!” Zontelo começou então com falações, e questionava-se da danação.

“Por que Deus colocou esse infeliz que detona o nosso habitat.”

Enquanto isso o fogo consumia a vegetação. Os animais a virarem churrasco e pó, poeira que poluía a região, asfixiando a vida ao seu redor. Macacos corriam para lugar nenhum. A queimadura era cruel, alcançava-os, devorando-os. Cágados, gazelas e outras espécies padeciam. Algo estranho ocorreu, as corujas sobrevoavam muito próximo da cabeça. Gorilas, leões e tigres ficaram em volta do Zontelo. Ele ficou cercado, do lado de cima os pássaros e em terra os outros animais. Estava no meio, olhou tentando achar escapatória, sem sucesso. Não havia a mínima chance de escapar. Ele, sendo muito religioso, ajoelhou-se para rezar, porém um chipanzé o segurou pelo braço, arremessando-o contra um Leão, este, no entanto, lambeu-o. Zontelo gemeu, tremeu, sentiu-se pequenino, desprovido. Uma zebra o sacudiu para o centro onde estava. Ele desmaiou. Os animais começaram a olhar para o céu rugindo. O firmamento estava encarnado e cinzento. O sol já cansado ia se deitar quando, inesperadamente, a chuva precipitou, derramando lágrimas sobre o fogo. Choveu copiosamente inviabilizando a propagação das chamas, os animais fugiram a se esconderem no que havia sobrado de floresta.

Zontelo acordou quando já se afogava no rio aonde havia sido levado pela corrente. Animal nenhum havia. Tentou nadar. As pernas preguiçosas o traiam, não queriam colaborar. Desesperado nadou apenas com as mãos, afortunadamente alcançou a margem. Ainda zonzo, quase torto, pensou:

“Sou um homem correto, como Deus me deu um irmão tão terrível que ateia fogueira na sua própria casa?”,

Levantou. Tropeçou. Tombou. Levantou novamente. Caminhou a ruminar, pela estrada da vida.

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