Filme Asas do Desejo, Wim Wenders, 1987

Por Marcelo Scanzani.

Eu já havia assistido alguns filmes do Wim Wenders e que não tinham conseguido me conquistar: eu achava que eles tinham muita preocupação com a estética e pouca com o conteúdo e com a história, me pareciam meio vazios.

Esta foi uma das razões para eu ter demorado para assistir “Asas do Desejo”, e deste eu gostei muito, achei o oposto dos outros que eu vi: profundo, emocionante e com ótima história.

Eu acredito que se basearam na história desse filme para Hollywood fazer o “Cidade dos Anjos” (que eu lembro que na época em que eu assisti eu não gostei): um anjo que anda meio entendiado da sua vida eterna e etérea e, ao observar os humanos, passa a achar a vida destes mais interessantes e até se apaixona por uma humana. O lance dos motivos do uso do branco e preto e do colorido é muito criativo e bem bolado! E, filosoficamente, tem a questão sobre a diferença de conhecimento e de sensações que existiriam entre um anjo e um ser humano, sendo que alguns filósofos, dentre eles Schopenhauer, diria que não seria possível que um anjo tenha conhecimento, pois o ponto de partida do conhecimento é o corpo, algo do qual o anjo é desprovido.

Este filme não foi o responsável apenas por eu me interessar pelo cinema do Wim Wenders, mas também me fez interessar pela música do Nick Cave. O filme tem duas cenas de shows do Nick Cave, sendo que a versão e a performance dele, na época com 30 anos de idade, para “From Her To Eternity” é espetacular, combinando perfeitamente com a letra, uma canção de amor desesperada e quase metafísica e transcendental, genial! Me fez ter vontade de ouvir toda a discografia dele!

E existe outra referência na música pop com este filme: as imagens do clip da música “Stay (Faraway, So Close)”, do U2, uma das músicas que eu mais gosto (e uma das poucas) deles, são muito inspiradas no filme, com o Bono Vox cantando no alto de estátuas de monumentos.

Obra-prima, tem completo gratuito no YouTube com legendas em português. Me deu vontade de assistir mais alguns filmes mais antigos dele, como “Paris Texas”.

Marcelo Scanzani, Jornal Choraminhices.