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Um xodó pra mim

Por Jahmaycon

Todos os dias, quando Janaina sai do trabalho, antes de ir para casa tomar banho, alimentar-se e dormir, ela passa no bar da galera. Invariavelmente ela bebe uma cerveja (às vezes duas, às vezes várias) e fuma alguns cigarros antes de seguir lentamente pela calçada até seu apartamento, algumas quadras mais adiante.

Já virou íntima de alguns atendentes que a conhecem pelo nome. Ela desabafa com eles, viraram verdadeiros confidentes. Quando Janaína não encontra nenhum conhecido, a maioria colegas da mesma multinacional onde ela trabalha, é com os funcionários seu papo. 

Ele vive se queixando da vida solitária. Quer encontrar um amor, “um xodó pra mim”, repete com frequência no ritmo da música, cantarolando o refrão todinho, antes de voltar a realidade, olhar para a garçonete e pedir desculpas por ter viajado mais uma vez. A moça, que procura sempre ser simpática, não responde nada, apenas gesticula amenidades de modo a deixar claro para a cliente que ela pode viajar o quanto quiser, afinal está consumindo.

Janaína raramente sai do bar cambaleando, isso só acontece às sextas, quando praticamente toda a galera do escritório se reúne ali e ela fica lá até o último deles ir embora. Muitas vezes algum colega novato se oferece para acompanhá-la até à portaria do prédio, desejando ser convidado para entrar, mas ela, embora muitas vezes aceite a caminhada, nunca permitiu que um deles entrasse. Eles acham que ela não gosta de homem e não tem coragem de se assumir, por isso se consome de angústia e solidão. Mas eles também não têm coragem de perguntar, preferem ficar especulando pelos corredores do escritório, sempre tomando cuidado para a fofoca não chegar aos ouvidos dela.

Janaína, na verdade, adora homens e não tem problema nenhum em se relacionar com mulheres, já fez isso várias vezes. Inclusive ambos ao mesmo tempo. O que há na verdade é que ela se cansou de relações líquidas e fluidas, quer algo sólido e definitivo: “um homem pra casar e ter filhos”, confessou certa vez a uma garçonete. 

Ela acredita verdadeiramente que seu homem será encontrado naquele bar, um lugar bem frequentado, repleto de carrões encostando e homens jovens, bonitos e viris entregando a chave ao manobrista do vallet e indo em direção a uma mesa onde outros homens jovens, bonitos e viris já se encontram às gargalhadas.

Alguém precisa colocar na cabeça de Janaína que ela está fazendo isso do jeito errado. Aqueles homens que estão ali vieram de outros lugares. A última coisa que eles querem naquele bar é encontrar a mãe de seus filhos. Os bares estão lotados de homens buscando relações líquidas e fluidas, então se algum deles olhar para ela, não será imaginando o rostinho do neném dali nove meses.

Por outro lado, os colegas de escritório que se oferecem para levá-la em casa, muitas vezes nutrem por ela sentimentos bem mais sólidos, já despertados antes mesmo deles irem ao bar com a galera. Mas Janaína não quer um relacionamento com um auxiliar administrativo qualquer, ela espera por um CEO daqueles dos carrões, por isso não desiste de ir naquele bar. Ela tem certeza que um dia um deles irá à sua mesa, a chamará de canto para um bate papo a sós e a pedirá em casamento ali mesmo, para delírio da galera que acha que ela está sempre delirando.

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