Por Sabrine Santos
Não sei como poderia começar contando essa história, ou pelo menos como ela iria terminar, mas de uma coisa eu sei, que depois daquele dia, eu nunca mais seria a mesma. Atenção! Atenção! Chamando todas as viaturas, houve um incêndio em uma cabana em meio a floresta, andem logo o fogo está se alastrando. Chamando todas as viaturas, me respondam.
Em uma noite fria e silenciosa, aconteceu o que mais temia no mundo, o acidente. Uma cabana pegou fogo, e pessoas foram mortas naquele lugar, não restou nada mais, só eu havia sobrevivido.
– Se eu ao menos… – chorando, dizia eu, perplexa com o ocorrido – não pude fazer nada para salvá-los, o que eu fiz?
Só lágrimas escorriam de um rosto machucado e assustado, de uma garotinha se culpando pelo que aconteceu. Mas o que aconteceu? Como ocorreu o incêndio? Por que a cabana pegou fogo? Como ela saiu de lá?
– Eu… é tudo minha culpa. Se eu tivesse… se eu tivesse os salvado, nada disso… nada disso teria acontecido.
Eu desmaiei, e depois disso não me lembrava de mais nada do que tinha acontecido naquele dia. Eu acordei no hospital, e sinceramente não sabia mais quem eu era, ou o que estava fazendo naquele lugar, mas uma coisa tinha certeza, que eu não estava sozinha.
Um homem, jovem, de aparência elegante e formal, entrou no quarto para ver se eu estava bem, e veio para me fazer algumas perguntas.
– Olá! Eu sou Sanshei, Sanshei No Komoro, mas pode me chamar de Sanshei. Sou um detetive policial e também um psicólogo, que investiga assassinatos e desaparecimentos, e lido com traumas de jovens e crianças, assim como você.
Ele tinha cabelos escuros e curtos, como se fosse a noite, mas brilhava como a luz da lua. Ele tinha olhos grandes e castanhos avermelhados, e pele branca com bochechas rosadas, 1,80 de altura, magro, com braços fortes e largos, com um terno preto. Ele estava vestido elegantemente, que era um conjunto, com sapatos pretos de couro bem limpos, segurando em sua mão direita, uma pasta branca. Eu não sabia o que era aquela pasta branca, mas pela cara dele, eu tinha um pressentimento de que não era bom.
Ele se aproximou de mim e sentou na cadeira ao meu lado, perguntou:
– Qual é o seu nome?
Eu fiquei quieta e não disse nada a ele, por mais que ele quisesse saber, eu não tinha noção do que falar.
– Você tem um nome?
Eu balancei a cabeça, mostrando que eu não tinha nenhuma noção, mas que o tinha entendido. Eu não sabia, por mais que ele perguntasse, eu não lembrava o meu nome. Fiquei pensando nisso, mas, por mais que tentasse, não lembrava. Depois ele olhou para mim e disse.
– Bom, se você não tem um nome, então vamos escolher um? Que tal… Natsu? É um bonito nome, não acha? Combina com seus olhos castanhos escuros, e com seu cabelo encaracolado castanho escuro e grande, e com sua pele branca e brilhante, pela luz do Sol, com a sua aparência bela e calorosa.
Olhei para ele e indiquei que havia gostado do nome, e olhei-me no espelho no canto do quarto, perto da janela do meu lado e me vi, ele estava certo sobre mim, brilhava como se fosse o Sol. Fiquei olhando para o espelho fixamente, encantada com a minha aparência.
– Você nunca se viu no espelho?
Ele me perguntou, como se estivesse certo, pois não havia me lembrado de nada.
– Eu vim com uma coisa para te mostrar, não sei se você vai se lembrar, mas se você souber o que é me avise, ok?
Ele demonstrou preocupação quando me disse isso, mas novamente acenei para concordar. Quando estava vendo a pasta, vi que tinha algumas imagens, mas não sabia o que eram, até que pude ver, correntes no chão enferrujadas com sangue, e comecei a lembrar, lembrar do que aconteceu naquele incêndio.
Em um carro estava uma família que saia de férias. Todos estavam felizes no dia. Antes do ocorrido, tinham parado em uma casa na floresta, linda e silenciosa, até que um homem armado atirou no carro e começou a chamar outras pessoas de dentro da casa. Eles começaram a atacar, batendo e chutando o carro fortemente, tirando a família do carro, e os agredindo sem piedade. Levaram a família para dentro da casa e os prenderam com correntes no porão. Quando anoiteceu, o homem armado e mais outros homens, estavam com tábuas com prego e outras armas, a família sem poder fazer nada só esperava pelo pior. Protegendo os filhos, os pais, mesmo acorrentados, se colocaram na frente de suas filhas para protegê las, mas a tentativa foi em vão, eles puxaram as correntes dos pais e começaram a bater neles fortemente com as tábuas, enquanto os outros, afiavam as facas para fazer grandes e profundos cortes neles. Na manhã seguinte, os homens apareceram de novo, mas mesmo depois de terem apanhado muito, a família estava determinada e confiante de que sairiam vivos de lá. Os homens foram para dizer que a noite seria bem pior, mais do que na noite anterior, então todos eles oraram e agradeceram a Deus, por mais que estivessem com fome, e sede, e feridos com os socos e chutes, estavam agradecendo, pois sabiam que em meio a solidão e aflição sairiam bem, pois não temiam o perigo. Quando anoiteceu a filha do meio viu que suas correntes estavam muito frouxas, que se soltaram sozinhas, então ela rapidamente ajudou a sua família, mas eles estavam fracos demais para se levantarem, então eles disseram:
– Nós vamos ficar bem, não se preocupe.
– Mas… Mas…
– Fuja! E não volte! Fuja!
Sai correndo rapidamente, mas tropecei e o homem armado queria me matar. E foi aí que aconteceu o incêndio, caíram lascas de teto sobre o homem, e me levantei para fugir, mas tinha muita fumaça e não consegui respirar, então caí no chão tossindo e desmaiei. Quando acordei, estava fora da casa, e pude ver as almas saindo, as almas da minha família saindo da casa em chamas. Eu ouvi os gritos das outras almas que nos machucaram, e quando olhei para trás, vi uma criatura alta e que estava no mais profundo escuro da floresta, os seus olhos grandes e vermelhos faziam com que eu visse a morte, a morte de todos aqueles que eu amava, e que não pude salvar.
– Não! Não! O que você fez!? O que você fez!?
Quando eu disse isso, a criatura apontou o seu dedo em direção a mim e me fez desmaiar. Enquanto tudo isso acontecia em minha mente, Sanshei olhava para mim com preocupação. Lágrimas começaram a escorrer de meu rosto.
– Natsu, você está bem?
Olhei em seus olhos fixamente, enquanto chorava sem dizer nada, perplexa com isso. Ele me deu um abraço, para me sentir bem. Lembrar de tudo aquilo que foi tão doloroso, que acabei desmaiando novamente, por conta da pressão.
Alguns dias depois, eu acordei e ouvi o médico e o Sanshei conversando, parecia que estavam falando sobre algo muito sério, mas não sabia o que era. Me levantei da cama e fui para a janela, estava chovendo, chovendo muito forte, mas o céu estava bonito. Fiquei me perguntando: e se eu não tivesse sobrevivido, assim como eles? E se… Eu não sabia o porquê ainda estava viva, mas sei que seria para algo bom, e que não veria a criatura novamente.
Sanshei se aproximou de mim e colocou a sua mão em meu ombro, me consolando.
– Vai ficar tudo bem, não precisa se preocupar, olha, eu trouxe alguns livros para você ler, se você quiser…
Respondi acenando com a cabeça e me sentei na cama para ler os livros. Eu achava que, depois do que aconteceu, eu não saberia ler. Mas eu me esforcei um pouco, comecei a ler as capas dos livros. Tinham vários, mas o que mais me interessou foi do Pequeno Príncipe. Eu me identificava com a sua história, por me lembrar de alguém, de alguém que sempre me fez bem, mas que não pude vê-lo sempre.
– Vejo que você gostou dos livros, que tal, a gente ir para um museu de livros, lá tem todos os livros que você pode imaginar, entre estes que lhe dei, e vários outros.
Acenei com a cabeça alegremente, pois nunca havia ido para um museu, ainda mais de livros. Depois que eu recebi alta no hospital, Sanshei me levou para sua casa. Ele me apresentou a casa e o Capitão, seu cachorro, um husky siberiano, que era preto, com pelos macios e brilhantes. Depois me apresentou seus amigos, amigos que viviam na casa dele, já que eram colegas de trabalho, em seguida me levou para o meu novo quarto. Era lindo, como se soubesse que eu iria ficar lá, logo adormeci, já que estava muito cansada.
No dia seguinte ele me acordou e falou para eu me arrumar, pois iríamos ao museu. Levantei apressadamente e desci rápido para sairmos. Seus colegas também foram, já que seus turnos eram à noite. Quando chegamos, percebi que tinha uma fila enorme, sem fim, mas como éramos de uma ocasião diferente, passamos pelo outro lado e entramos. Eu amei tanto aquele lugar, que fiquei muito emocionada, mas ao mesmo tempo irritada, porque enquanto os colegas do Sanshei corriam que nem loucos, eu tive que ficar ouvindo as suas regras. Me senti como se fosse uma criança, mas eu não era, já tinha uns 14 anos, e sabia cuidar de mim mesma. Ele falava aquilo com o seu olhar de preocupação, como se não quisesse me perder, por isso eu o obedeci. Fomos andando por lá e encontrei algumas editoras que estavam se juntando com os seus livros, para chamar mais a atenção das pessoas. Percebi que eram os livros que Sanshei havia me entregado, enquanto ainda estava no hospital. Então eu fui para ver, tinha personagens dos livros.
Era como se os personagens dos livros estivessem se comunicando. Mary Lenox, Colin Craven e Dickon Sowerby estavam procurando a porta do jardim secreto, enquanto o Aviador perguntava se eles haviam visto o pequeno príncipe. Já Dorothy, alegre, perguntava se eles sabiam o caminho para o Kansas. Mas nenhum deles encontrava o que queria. Foi então que eles se juntaram para ajudar uns aos outros. Começaram primeiro a ajudar Dorothy a voltar para casa, atravessar o deserto que banhava Oz, e o Aviador os ajudou, já que ele havia estudado geografia muito bem, ele mostrou o caminho do Kansas para Dorothy. Antes de ir, ela disse que havia visto um pequeno homem perto de uma cobra que o mordeu e fez cair no chão, e também disse que viu uma porta perto de um poço, onde o homenzinho estava antes de ser picado por uma cobra. Todos saíram determinados para encontrar o que queriam, e assim terminava esta junção de livros. Alguns deles ainda continuavam, viajando pelos livros de vários escritores famosos, como: Os irmãos Green, Coraline, A bela e a fera, entre vários outros escritores.
Eram bem interessantes os livros que tinham naquele lugar. Não tinha como não achar livros, era simplesmente uma livraria, tendo vários assuntos de livros, entre terror, aventuras, e até mangás, mas o que mais tinha de legal, era que tinha até pessoas fantasiadas de acordo os livros, e personagens deles.
Um tempo depois me sentei para esperar o Sanshei voltar com o lanche, até que…
– Todos saiam organizadamente por favor! Não se preocupem.
Começaram a ter tiros, que pareciam vir do terraço, mas não tinha como saber, já que começaram a ter gritos e correria no local. Não consegui pensar para onde iria, eram muitas pessoas que eu não conseguia ver para onde estava indo. Comecei a ir em direção às escadas para tentar sair, mas tinha muitas pessoas correndo e se empurrando para sair, então tive que subir para o terraço, assim não iria me machucar com as pessoas. Neste mesmo momento, Sanshei estava com as compras dos lanches e algumas lembrançinhas, mas acabou largando tudo no chão quando começou a gritaria, eu subi às pressas pelas escadas, para que a multidão não me levasse, nessa hora, os amigos de Sanshei o estavam procurando para avisá-lo de que eu havia subido para o terraço, onde estavam tendo os tiros.
Quando cheguei até o terraço, vi um homem com sua arma, ameaçando uma jovem. Se os policiais não o obedecerem, ele iria matar a jovem e jogar o corpo do prédio. Eu não pensei duas vezes antes de detê-lo. Peguei um ferro que havia achado no chão do terraço. Enquanto ele estava destruído com a jovem perto da beirada do prédio, comecei a andar silenciosamente, levantando a mão direita com o ferro que eu havia pegado, e dei um golpe forte em sua cabeça, que o fez cair no chão largando a jovem que quase caiu do prédio. Teria caído, se eu não a tivesse pegado pelo braço, fazendo com que eu escorregasse, mas segurei ela fortemente para que não caísse. Neste momento, Sanshei estava subindo as escadas rapidamente para chegar ao topo e ter a esperança de que eu estivesse viva ainda. Quando Sanshei chegou ao topo, abriu a porta com a maior velocidade que tinha, neste momento ele olhou para mim e gritou apavorado:
– Natsu!
Olhei para traz e o vi, com o seu olhar de preocupação e esperança por eu ainda estar viva, mas no seguinte momento, o homem armado sacou a sua arma e atirou pelas minhas costas, fazendo com eu ficasse fraca. Puxei a jovem para cima me jogando do prédio de tão forte e doloroso que foi o tiro. Sanshei sacou a sua arma e atirou não mão do homem armado, fazendo com que soltasse a arma pela dor do tiro, correndo desesperado para me salvar de cair do prédio. Quando eu já estava soltando da beirada do telhado do terraço, Sanshei alongou seu braço para pegar a minha mão… e acabou não conseguindo. Comecei a cair do prédio com mais de 23 andares. Comecei a pensar na morte do pequeno príncipe, que havia dito que não aguentava mais o seu corpo, fazendo com que ele encontrasse a cobra, que o matou, e sua alma voltou para seu planeta, o que o fez sentir-se bem, já que não iria mais suportar suas dores e cansaço. Eu me senti como se os meus problemas fossem sumir e que não iria mais ser machucada, e nem afetada pelo meu passado que me assombrava, finalmente estaria com a minha família, finalmente descansaria em paz.
Enquanto eu caía, lágrimas escorriam pelo meu rosto, e um sorriso levemente se mostrava, com os gritos desesperados do Sanshei. Sussurrei calmamente, enquanto caía do prédio, dizendo a ele com uma voz doce e suave, já que eu nunca havia lhe dito algo quando cuidava de mim. O agradeci com um obrigado, mostrando o meu sorriso de que estava feliz pela minha morte. Pelo menos eu salvei alguém, pelo menos eu tinha cumprido com a minha missão, que por mais que não tenha salvado a minha família no dia do incêndio, acabei salvando uma jovem, que por mais que eu não a conhecesse, tinha salvado a sua vida.
Sanshei gritava com lágrimas no rosto, me vendo cair do prédio, sem ter como me salvar. Pude ver em seus profundos olhos, a dor de me perder, mas eu sei que ele não ficaria sozinho, sei que ele tinha bons amigos, já que eu nunca tive amigos bons. Ele iria ficar bem sem mim, mesmo que tenhamos passado por coisas boas juntos, eu o agradecia, do fundo do meu coração, por tudo que fez por mim. Eu o amava como se fosse meu irmão.
Sanshei saiu triste e perplexo com o ocorrido, enquanto o homem armado foi preso, e a jovem voltou para sua família. Ele voltou para casa, e foi visitar o quarto de Natsu, para tirar as coisas dela, quando chegou, entrou na casa e subiu direto para o quarto da garota. Ao abrir a porta e entrar, viu um presente em cima da escrivaninha dizendo: “Para Sanshei”. Imediatamente ele foi em direção ao presente, vendo que havia uma carta escrita por Natsu, começou a ler.
“Obrigada, Sanshei por tudo que fez por mim. Mesmo que eu não tenha falado antes, saiba que além do meu obrigada, queria dizer que a sua presença já me fazia feliz. Sei que você também se sentia feliz, e eu queria te dar algo antes, mas como nunca tive a oportunidade, espero que você tenha achado isso, eu o fiz com todo o meu amor, e gratidão por você”
Assinado, Natsu.
Com lágrimas a escorrer de seu rosto, abriu a caixa e se encantou, alegre pelo que recebeu, um ursinho que Natsu havia feito com tricô, e uma foto dela sorrindo, com o pôr do sol atrás, e os seus cabelos voando com o vento. Era uma foto muito linda, que fez Sanshei chorar ainda mais, só que estas eram lágrimas de alegria. Sorrindo levemente, abraçando o ursinho, sentado na cama de Natsu, ele estava agradecendo por tudo que ela havia feito, por lhe ter trazido a felicidade.
– Natsu, obrigada – disse ele para si mesmo.
As pessoas acham que a morte é tão ruim, mas ela simplesmente nos livra de toda dor do mundo, nos tornando felizes. Mesmo que percamos algum parente, não devemos chorar, pois sabemos que agora ele ficará bem, e seguro, e não devemos nos preocupar. Saiba que, mesmo com toda dor que ele havia sofrido, ele descansa em paz, feliz com os seus sonhos, sendo animal ou pessoa, ele sempre estará bem.
Às vezes, pensamos que a nossa vida não passa de nada mais do que os nossos olhos podem ver, e para enxergar a verdade precisamos morrer para encontrá-lá. Com as dores do mundo, que só nos fere e destrói o fundo da nossa alma, eu achei isso. Por mais que eu tenha perdido a minha vida para achar a felicidade que eu tanto desejava. Mesmo que as pessoas queridas estivessem me perdido, eu me sinto feliz com isso. Mesmo que as pessoas lamentem a minha morte (ainda mais o Sanshei), eu sei que eles vão ficar bem.
A morte é tudo que eu desejava e agora eu a tenho, caindo em um sono profundo nos braços eternos da morte. A morte não é ruim, pelo contrário ela é a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo. Por mais difícil que seja perder alguém para a morte, saibamos que agora esta pessoa descansa em paz, sem dores e preocupações, assim como guardei mágoas do passado e a minha tristeza atrás da minha alma. A morte sempre estará por perto… adeus…querido diário.