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Ele era um gajo muito exemplar na comunidade. Não se tem notícias de ter existido um como ele. Ajudava todos que o procuravam e voluntariamente entregava-se a uma obra como trocar lâmpada ou até construir uma vila. Criou sete filhos, três netos e um bisneto. Nenhum deles abandonou a casa, todos foram vivendo no palácio que ele construiu lá para as bandas da Rua Seis, do terceiro quarteirão, da primeira vila dos colonos brasis.
Aos 113 anos andava a murmurar, isolado na edícula com o bisneto, onde construiu com muito esmero uma tecnologia inusitada. Servia para se protegerem da invasão de formigas e abelhas, que sem muita delonga se apossaram do seu castelo, que era tão quieto, tranquilo e desejado por todos.
“Que casa!”, um e outro transeunte comentava enquanto passava na Rua Seis.
“Dizem que é do velho que construiu a vila!”, dizia outro.
“Conheço o velho, é amigo de todos”, concluiu um terceiro.
Mas John Mágoa de Zé estava muito ocupado com tecnologia para acabar com amontoado de formigas e abelhas. As formigas apareciam enfileirando-se, a construir dunas de areia no quintal, dificultando a passagem. Enquanto as abelhas multiplicavam-se ocupando tudo que era vazio: primeiro ocuparam o primeiro andar, onde ficava a biblioteca, mas ninguém se abalou. “Quem lê esses livros?” Perguntava o filho mais velho, “pois é, mano, agora as abelhas vão ler”, dizia o filho do meu meio. As abelhas com permissão geral, além da biblioteca, ocuparam a lavanderia. “Não esquenta, pai, você não usa esse cômodo para nada”. Enquanto isso, se multiplicavam ocupando na sequência a cozinha, “Ah, pai o senhor não precisa da cozinha”. Em seguida a sala de jantar, os lavabos e quando se percebeu a sala de estar estava possuída por abelhas e colmeia, inviabilizando qualquer movimento sem picadas. Foi então que se unindo ao bisneto, o velho dos velhos decidiu recorrer à tecnologia para recuperar a casa, tomada pelos insetos. Trancaram-se no cômodo da edícula, por uma semana, duas semanas, um mês, dois meses e, em um semestre apareceram esqueléticos, porém vivos com projetos.
Quando o projeto foi implantado, as formigas ficaram em bicha, uma no rabo de outra e se deslocaram para a Rua. As abelhas seguiram o mesmo caminho. A Rua ficou repleta, tomada. Quando a vizinhança viu o que saia do castelo gritou desesperada:
“Socorro, o castelo do velho estava vomita…”. A defesa civil foi chamada. O exercito e bombeiros ficaram de prontidão, mas quando iam se posicionando para agirem, os insetos desapareciam.
A orquestra continuava no castelo até que todas as pragas foram consumidas sem uso da força bruta. Assim eles recuperaram a casa, a paz e viveram felizes para sempre. O Velho partiu, mas deixou seus ensinamentos com o bisneto, que vez e outra dizia ter visões do seu companheiro. Ficava dia e noite debruçado sobre livros na biblioteca, onde recebia visitações do velho dos velhos. Para tanto, bastava o bisneto começar a ler um livro ele estava lá conversando com ele noites adentro…
“Companheiro, o que o livro não faz…”, dizia o bisneto.
“O que a tecnologia não é capaz de fazer?” Perguntava o velho.
“Que aliança, que felicidade!”, gritou o mancebo.
Seu pai apareceu na biblioteca e encontrou-o a dormir sentado com livro aberto a cobrir o rosto.
“Filho”, disse ele, “não é melhor dormir na casa?”.
Davambe.