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O Ano e a Novidade

Jessé Salvino Cardoso.

O viajante ao viajar busca entende-se melhor a si mesmo e ao olhar o mundo em outras perspectivas. O autoconhecimento é ainda uma das facetas do longo processo que é a viagem em si mesma ao longo da vida, pois a viagem é um processo.

Trata-se de uma fuga não declarada dos problemas familiares e cotidianos que azedam semanas e dias, e a fuga serve para isso, cada viajante parte em busca de uma aventura que possa viver em paz e tranquilidade durante alguns dias da sua vida.

A busca por aventura ou experiências agradáveis deve também fazer parte do pacote, é uma parte importante de todo o processo, é um esforço para sair da rotina, e requer planejamento e outros detalhes como preparar malas.Desculpe meu caro leitor pelo longo atraso da série enciclopédica Vilões da Bíblia, que ano que virá, nesse momento pretendo construir uma série sobre o Ano Novo.

Naturalmente, enxergamos o Ano Novo com muitas esperanças e promessas em prol de nossos objetivos, isso até que é compreensível e coerente, de cada um de nós buscarmos atingir metas que perdemos esse ano corrente. As metas não atingidas são recuperadas e ousadas , mas vazias. A recuperação revela o nosso apreço pelo passado que sempre volta, segundo Ondjaki é adequado, porém, não cumprido conforme planejamos.

O romancista e poeta Ondjaki revela que o presente somente podemos ver com os olhos de acordo com o seriado O jovem Papa, nesse caso á respeito do futuro é algo mais ainda incerto e inseguro. Ao apontar o personagem principal do seriado, nós nos atentamos a refletir acerca do passado e não do presente ou futuro que estamos acostumados a pensar no Ano Novo.

E realmente os dois passam argumentando em prol do passado, Ondjaki como Lenny o tempo inteiro resgatam as passagens da infância ora perdida, ora reconstruída. A reconstrução surge a partir de lembranças e partes da vida ainda não concluídas como nossa coluna de jornal no momento.

Assim, Lenny, o jovem papa, sempre diz que o passado é um lugar onde tudo se encaixa, parece que Lenny o tempo inteiro reserva o passado como uma busca do tempo perdido, que ainda perturba o presente em que vive no momento do seu papado. O presente também é algo perturbador que acaba por assustar tudo que o assiste ao longo da vida, o presente acontece com muito tempo á frente. Lenny preserva o passado como um exposição artística que vai ser aberta.

Novamente Proust é citado e referido com frequência incomum no seriado, o cardeal Voiello diz: ‘Proust mas reafirma que ninguém lê’, nesse caso especial Voiello tem um grau de razão, e Lenny o que realmente pensa? Ele pretende reformar em detalhes a fé católica, mas nisso os cardeais vão dizer, isso pode ser uma ruína. A ideia da ruína é um desenho quadrinizado com um contexto frio e simbólico que desembaraça as ações do rio chamado tempo segundo Mia Couto.

O romancista por outro lado conserva em sua imaginação criativa remonta com muito cuidado um passado que venha ressoar no futuro, sem falhas ou furos que perpetuam a vida como um todo pois a nossa vida é formada por passado presente e futuro. O tempo na verdade assume essas três formas de existências contínuas que são constantes e permanentes. A permanência também reserva uma noção do tempo embaraçado.

Visivelmente o clérigo e o romancista concordam á respeito da ampliação do passado , Lenny e Ondjaki o tempo todo partem em busca de um passado que está perdido e merece atenção, agora a respeito do futuro, Lenny sempre retarda suas tarefas papais em nome do passado reconstruído. A busca pelo futuro não uma sintoma é uma doença, a ansiedade revela assim uma preocupação antecipada acerca de problemas que ainda nem existem.

Isso indica que o retardamento das decisões de Lenny revelam que o futuro introduz e esboça um tempo, ainda não foi quadrinizado ou manipulado. A embraçada visão de um velho cardeal complicam o jogo de dados do poder em Roma, um papa jovem e despreparado ou um golpe extremo á respeito do futuro do papado romano.

Diante de dois espelhos biográficos que se preocupam com o passado e o futuro tratam com reservas, essa percepção indica que presente e o futuro são dois lados da mesma moeda. O futuro ainda traduz uma indiferença estética com o presente.

Assim, em que reside essa diferença? O futuro ainda é um espaço nada esquadrinhado ou quadriculado, a visão estética reporta a uma mentalidade antiquada, baseada em uma percepção falha do mundo, o futuro demonstra que a ausência de ansiedade como a forma de presença. O futuro se resguarda de existir com a decisão moral de realizar escolhas certas e seguras que se abrem no presente.

Durante a vida, as pessoas se preservam em registrar elementos do passado e do presente, indicando ausências e presenças, essas presenças são presentificadas graças ao esforço da memória em questão, á respeito de dados relevantes que carecem de atenção mediada. Caro leitor, Lenny e Ondjaki que o futuro é um tempo ainda não chegado que não precisa ser antecipado. O futuro é uma forma de Advento possível certeza de que eventos possam acontecer.

E o mistério reside exatamente aí, Lenny sonha como futuro, o sonhar é um aspecto psicanalítico fundamentado nas ideias científicas de Freud e Jung e nada mais. O sonho no seriado seria uma forma ornamental de previsão, tratando-se de um papa que assumiu recentemente o papado, ao se tratar de uma previsão o papa Lenny pode ter tido uma revelação. Ondjaki não desenha seu futuro numa previsão lógica advinda de um sonho que também pode ser esquecido, descortina o futuro a partir de um seguro passado que desenha com a vontade suprema de realizar o futuro como algo que fosse realizável.

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