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Chuva de Flores em Soro Cabanu

Por José Namboretti.

Naquela cidade, Soro Cabanu do Jequitina, lá no Pau Furado, aconteceu um fato inédito: todos os homens ficaram engravidados ao mesmo tempo. Ah! Assim a população exclamou, a fazer sinal da cruz sempre que se lembrava do acontecido. Havia uma portuguesa que se orgulhava de seu país ter sido o primeiro em que as mulheres tomaram a iniciativa de oferecer flores aos homens – sim, os homens rebeldes receberam flores, o fato ocorreu em abril de 1974, ficou a circular na imprensa internacional, foi batizado com o nome de Revolução dos Cravos. Cravo é a flor nacional de Portugal. Com esse gesto o sorriso português relampeou, fez-se visto além- mar, era posta uma pedra sobre a matança dos homens, em uma luta que de repente estava sem se saber se europeia ou africana. Imperial, isso ninguém tinha incerteza. O acontecimento da cidade Soro Cabanu do Jequitina mobilizou a sociedade e o governo para o debate, assim como o evento português que culminou na fuga de Marcelo Caetano para o Brasil. Não querendo ser diferente, o prefeito da cidade não hesitou em pegar o jatinho para Brasília, era absolutamente necessário trocar experiências e, quem sabe, conseguir recursos, tratava-se de risco não previsto, tal que nenhuma verba fora reservada para mitigação.

O governo devia encontrar explicação para o fenômeno e adequar a infraestrutura para acomodar o assunto e os bebês que iam nascer dos homens. Um cientista entrevistado em cadeia nacional disse entre ditos que aquilo não era fato isolado, provavelmente aconteceria em uma cidade circunvizinha. Todos levaram a mão à boca para nada dizer, soube-se depois que a conjunção carnal fora evitada. Haveria algum convênio para isso? Ninguém questionou, mas um projeto foi criado, eleito seu gestor e em pouco tempo um novo tributo se fez existir. Dona Maria não teve dó, reclamou feito criança, com choraminhices, não derramou lágrimas, seu marido dizia que ela as engolia: “Já pagamos impostos, qual é?”, “Oh, mulher, pagamos para circunstância normal”, dizia o marido, André, “Então, já pagamos, por que inventaram outro?”, “Escola para os nossos filhos”, “Então eu vou pagar metade, porque sei que só metade dos meus filhos podem entrar na faculdade”, “Como assim? A universidade é para todos”, “Não é para todos, não! Eu vou pagar só metade”, ficaram os dois a conversar, o que não se via na casa desde que o tablet passou a fazer parte da família. Viviam juntos, mas cada um ocupado com o seu aparelho.

Enquanto isso, no gabinete o gestor atualizava a lista de riscos envolvidos nos projetos:

  • hospital para todos,
  • médicos,
  • escolas,
  • assistência médica,
  • segurança.

Poucos foram os que acertaram a previsão de nascimento de crianças naquele ano tão cheio de surpresas…

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