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Três Bons Filhos e a Presença

Por Jessé Salvino Cardoso.

O viajante ao viajar busca entende-se melhor a si mesmo e ao olhar o mundo em outras perspectivas. O autoconhecimento é ainda uma das facetas do longo processo que é a viagem em si mesma ao longo da vida, pois a viagem é um processo.

Trata-se de uma fuga não declarada dos problemas familiares e cotidianos que azedam semanas e dias, e a fuga serve para isso, cada viajante parte em busca de uma aventura que possa viver em paz e tranquilidade durante alguns dias da sua vida.

A busca por aventura ou experiências agradáveis deve também fazer parte do pacote, é uma parte importante de todo o processo, é um esforço para sair da rotina, e requer planejamento e outros detalhes como preparar malas. Nesta coluna , eu abrirei um longo parenteses, relatar acerca da minha viagem de cinco dias em Santa Catarina. Sendo mais específico na cidade de Tigrinhos, na companhia de um amigo de infância. Dando continuidade vou falar do exercício da paternidade de nosso hospedeiro.

Todos rapazes e moços de uma geração sempre terão desejo de serem pais de filhos e filhas, normalmente esse desejo surge na saída da adolescência para a juventude. A ideia de ser pai em sim mesa é uma experiência nova na vida de um homem, quer novo ou velho.

Realmente a experiência de exercer a paternidade é um exercício que requer uma constância e um projeto de continuidade e encontros e desencontros que ocorrem normalmente entre pais e filhos, em qualquer época histórica. Os encontros são exercícios de afetividade e amor , por essa razão que ganham o nome de encontros. Já os momentos de crise e desobediência que na verdade rompem essa relação entre pais e filhos , recupera ma ideia de um desencontro ruidoso e atrapalhado , normalmente dolorido.

Essa ideia de exercer a paternidade tem um conjunto forte de nuances sonoras. Por que tanta sonoridade no exercício da paternidade? Em si mesmo, o exercício requer disposição e energia para ás vezes desapontar os filhos e as filhas. Um pequeno detalhe, muitos pais nunca ficam prontos para esse momento de frustração e tristeza.

Sucintamente , por melhor que se considere um pai , normalmente sempre poderá cometer erros na criação dos filhos. O nosso caro hospedeiro tem uma grande preocupação quanto a esse assunto, de primordial importância para um mundo na Pós-Modernidade Líquida. Esses erros não seguiram o resto de sua vida , mas alguns filhos com um pingo de revolta poderão acusá-lo o resto da vida que já é curta.

Bom , o nosso hospedeiro busca evitar todos esses males em relação ao seus filhos , parece que Josué tem uma verdadeira felicidade em lidar com seus filhos , com certo cuidado digno de um filho de seu Amaro seu falecido pai de saudosa memória. Em uma fina ironia shakesperiana, sem uma sombra de dúvida um pai não pode se frustrar como o rei Lear com suas três ilustres filhas . Parece que o nosso hospedeiro estava e está prevendo todos esses efeitos positivos e negativos de uma paternidade.

O exercício da paternidade não pode ser relegado ao trabalho de um professor de vasta sabedoria ; mas somente o pai tem autoridade para dar a educação adequada ao seus filhos, na verdade esse é um compromisso de paternidade que custa tempo e momento desejado. O pai também faz um exercício de exemplaridade moral para cada filho, que esse exercício deve ser uma constante familiar.

Nunca um pai só pode dizer ‘sim’ para os seus filhinhos e filhinhas o tempo todo . Se um pai fizer isso estará condenado a ser um ‘escravo’ dos filhos e nunca exercerá a devida autoridade concernente ao seu papel que durará para sempre na memória dos filhos.

Sem aspereza de palavras e de posturas, um pai deve ser uma ‘presença’ constante nas decisões dos filhos e filhas não como um interventor judicial, mas como um homem que tenha a sabedoria devida para lidar com as faixas etárias diferentes umas das outras. Essa sabedoria é oriunda de sua experiência de vida.

Finalmente chegamos aos conselhos finais dessa coluna, um pai não pode ser excessivamente amoroso, pois pode destruir o futuro ainda distante de seus filhos e condicioná-los a presentes com certa frequência , nesse caso irá acostumá-los mal ao longo da vida , pois a vida é uma guerra não uma festa com presentes como muitos filhos pensam e imaginam.

Isso indica por sua vez de que um pai deve ser uma medida de equilíbrio para a família , essa medida áurea que é a figura do pai , essa figura não deve anda em falta nas famílias atuais. Mas o que se pode exigir das famílias atuais , meu caro leitor. Você irá pensar com seu botões , um pai é um figura de menos valor em uma família, hipoteticamente não é, pelo contrário e de grande valor.

Legalmente isso é verdadeiro e correto, mas um mundo onde os valores sólidos do passado se derreteram como as geleiras dos polos , e todos valores ganharam uma certa ‘liquidez’, com isso a figura paternal perdeu sua força de onde provinha sua autoridade , pois vivemos em um tempo onde ocorreu uma enorme inversão de valores morais e éticos. A sociedade falhou em não recuperar seus valores matriciais que ao mesmo tempo lhe regiam e lhe impunha certas regras úteis para a convivência.

Havia um certo respeito maior dado aos pais nessa época , hoje isso já não existe mais a humanidade apenas os vê como figuras antiquadas reservadas num relicário para o papel de enfeitamento de um mundo desequilibrado moralmente e socialmente.

Os filhos devem somente se lembrar de que um dia serão pais , essa lembrança devem atormentar os jovens de nossa época como força de uma diapasão em seu ouvidos e memórias . Por sua vez , as instituições devem lutar em prol do resgate da figura paterna outrora valorizada , mas nos dias de hoje rejeitada.

Somente um detalhe essa é uma conjunta de famílias e a sociedade em prol desse trabalho de resgate e valorização da figura paterna, pois a paternidade é importante em uma sociedade sem modelos como a nossa , onde os errados estão certos , e o certos estão errados.

E ainda podemos aqui se apoiar no pensamento do estudioso Hans Gumbrecht acerca da presença como uma sombra, a partir de outra visão. A presença seria um campo de manifestação das obras de arte que escapa a essa cisão representacional. As obras de arte não representam uma realidade que lhes seja exterior. Tampouco se reduzem à materialidade de seus artefatos técnicos. Toda obra existe como presença. E como presença afeta o leitor em diversos aspectos. Uma obra não é nem subjetiva nem objetiva. Uma obra é sempre um intervalo. Uma presença.
Em Atmosfera, Gumbrecht desdobra os potenciais contidos no conceito de presença, transferindo-os para o novo conceito: Stimmung (atmosfera). A atmosfera é decisiva para a compreensão de alguns dos grandes momentos da literatura. Ela orienta as canções medievais de Walther von der Vogelweide. Mostra-se na tradição da novela picaresca espanhola. Emerge em Shakespeare, em Diderot e no pintor romântico Caspar David Friedrich. A atmosfera também é o fio condutor de Morte em Veneza de Thomas Mann, de Machado de Assis e mesmo das canções de Janis Joplin.

Mas como articular atmosfera e presença para além das esferas da arte e da literatura? Em certo sentido, esse é o esforço de Gumbrecht em Depois de 1945. Com as memórias pessoais, não necessariamente autobiográficas, Gumbrecht reconstrói a atmosfera do período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial. Marcas de carro, estrelas de cinema, reportagens da revista Life, propagandas e produtos da cultura de massa se mesclam a reflexões sobre Beckett, Sartre, Buñuel, Pasternak, Camus, Celan.

Imagens da infância na casa dos avôs desenham em tons fugidios o período de desmonte do nacional-socialismo. Canções de Edith Piaf lançam luzes sobre o existencialismo francês. Gottfried Benn, Martin Heidegger, Carl Schmitt são analisados contra o pano de fundo da chamada revolução conservadora, que promovera a ascensão de Hitler. Os brasileiros João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa, bem como as literaturas hispano-americana e norte-americana, gravitam ao redor desse turbilhão.

Nessas constelações culturais, Gumbrecht identifica algumas constantes: claustrofobia, sensação de beco sem saída, má-fé, interrogatórios, descarrilamento. Contudo, a vida do pós-guerra seguiu o seu curso, como se tudo tivesse voltado à normalidade. E nisso consiste o grande sintoma. A história perdeu sua capacidade redentora. A política se esvaziou. A guerra persiste sob a forma de latência, mesmo nos ambientes de paz. Mas nós continuamos acreditando na política e na história. Não mais por utopia, mas apenas por não termos outra alternativa. Hoje em dia o sentido da história (teleologia) simultaneamente nos redime e nos aprisiona.

A imagem da latência é a de um passageiro clandestino. Muitos no trem percebem sua presença. Mas ele é invisível. Ao fim e ao cabo, a mensagem de Gumbrecht deixa uma fresta de esperança. Talvez a história volte a fazer sentido quando percebamos que somos todos clandestinos. E que os trilhos não nos levam nunca à estação que esperávamos.

A imagem de um pai é resgatada pelo estudioso de uma forma especial capaz de recuperar uma figura desgastada pelas areias do tempos, e que nesse momento precisa mais do que nuca ser recuperada para dar limites a um geração sem eles , anda sem uma direção ousada e poderosa que possa dar um poderoso tempo aos seus exageros tardios.

Com o nosso hospedeiro nos concedeu inúmeras lições a partir de sua experiência como pai ao longo de sua vida onde erros e acertos lhe deram a luminosidade necessária para educar seus filhos ora pequenos ora engraçados e ousados. Que me trouxe inúmeras lembranças da minha infância como marca da vida. Caro leitor leia essa colunas e divulgue entre colegas e amigos, contamos com seu apoio e sua contribuição elogiando ou criticando nossas colunas, pois, só contamos com vocês leitores.

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