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Por José Namboretti.
Eu ainda vou entender por que os adultos vivem correndo de um lado para outro, meu pai me dá um beijinho no rosto e sai correndo dizendo que está atrasado, alias ele está sempre atrasado e quando chega a casa à noite, já vai avisando “estou cansado quero descansar”, vai dormir cedo. Minha mãe pouco olha para mim, assim que acorda se apossado do computador, fica mexendo os dedos o dia inteiro às vezes esquecendo de comer, escuto a voz dela de longe falando, “já fez a lição?”, e eu saio correndo para fazer a minha lição. A única pessoa com quem consigo conversar é a empregada, é ela que faz as minhas lições, essa me entende.
A nossa empregada comenta que o problema dos adultos é falta de tempo, mas como? E acrescenta: veja o seu relógio, o ponteiro está andando, então, enquanto não estiver parado, o homem nunca vai sossegar. A partir daquele dia ando devagar de olho no relógio para ver se os ponteiros param, para minha surpresa, um dia desses encontrei minha mãe diante do retrato da minha avó, quando olhei seus olhos estavam repletos de lágrimas, estava chorando, e se lamentando do tempo que passou:
– Tenho saudade da minha mãe, ela disse.
– Mas ela está lá no céu olhando por nós, não é mãe?
Ela ignorou as minhas palavras, continuou chorando apesar de, por várias vezes ter dito que minha avó estava com papai do céu. Fiquei assustado, ela chorava como chora uma criança, era choro com mais intensidade.
– Mãe! Como pode chorar por causa de um retrato pendurada na parede?
– Esse retrato me lembra a minha mãe!
– Precisa chorar?
– Não choro pela minha mãe, mas em saber que vou morrer.
– Mãe, devia de viver alegre, quando tu morrer que chorará será eu.
Escutei os ponteiros do relógio, era hora de ir para escola, foi então que percebi que o maior inimigo era mesmo o tempo, esses ponteiros andantes que nos tornavam adultos. Fiquei revoltado eu não queria ser adulto, mas a quem podia reclamar se os meus pais não tinham tempo para nada? Andei triste, vivi angustiado, da crueldade do tempo, que faz uma criança se tornar adulto, velho e em seguida um retrato, um ser pendurado na parede.
Não dá para entender os adultos e os seus tempos.
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