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Por Davambe.
Ei-lo, Jacaré solitário do rio das marginais, dizia-se que era a única espécie que sobrevivia naquele rio, talvez o único. Sim alguns se arriscavam a dizer que ali vivia só e juramento não tardavam.
– posso jurar que aquele é o único Jacaré – disse o Macaco
– Então jura que não estou nem ai, na bem da verdade, não quero nem ouvir – renunciou a Macaca.
– Juro que te ama.
– o quê? Repete!
E assim a terra girava, permitindo outros experimentos e intercessões com o sol. Enquanto isso o jacaré entregava-se às cócegas de areia: ora fechando um dos olhos, ora mostrando a língua, ora abanando o rabo. Erguia as patinhas deixando a barriguinha cair na areia.
– Mal educado e preguiçoso – acusou o Macaco.
– Pornográfico, mostrando as partes íntimas.
O Macaco desceu da árvore, pegou algumas pedras e começou a jogar contra o bicho descansador.
– Assim não, Ermerinda, pode machucá-lo.
Aquele jacaré encontrava na areia o momento particular para tomar folgo. O rio das marginais parecia não possuir oxigênio suficiente para manter um ser mergulhado por muito tempo. Não tinha oxigênio para isso. De repete aquele casal de macacos parecia ser inconveniente, como a poluição que proibia a existência da vida na água.
– Nem peixe há.
– Nem minhoca.
Foi então que começou a discussão de quem havia poluído o rio.
– Choveu a passar de conta, arrastando tudo pra dentro, tentou argumentar o Macaco.
– Mentira, foi você que urinou nele enquanto eu dormia.
O casal conversava em cima de uma mangueira. Entre um diálogo e outro comia a manga e jogava no rio, as cascas boiavam. Os filhotes que estavam na jabuticabeira se urinavam de tanto rir. Imitando os gestos dos pais, começaram a derrubar os galhos da jabuticabeira para o rio abaixo era gargalhada e pulos entre ramos para ver quem jogava mais no rio. Entretanto, num ato de imprudência elevada, a macaquinha na sua macaquice, escorregou e para o desespero da família caiu dentro do rio das marginais, como uma pedra. Em menos tempo, estava se afogando entre detritos e outras coisas nojentas que eram jogadas no rio. O Jacareí, que era o rei do rio, piscou os olhinhos e mergulhou sem preocupação.
Mais pedras foram lançadas contra ele. Era o único que assistia calado o padecimento dos seres em função da ausência de vida.
A noticia não tardou a chegar à aldeia, todos se comoveram com a morte da macaquinha. Então o grupo, organizou uma cerimônia de despedida da sua alma. Naquele dia, mais de mil macacos foram à margem do rio, cada um com objeto para arremessar na água, como forma de demonstrar a zanga.
Os mais jovens jogavam flores, os mais idosos pau, outros arremessavam pedras. Um coro quase de maledicência se podia ouvir:
-Maldoso traga nossa filha de volta
-Cadê macaquita que nos roubou
-Oh, rio sem nome
-Sem graça
-Sem vida, uma você acabou de matar
-Maldoso
Enquanto isso o Jacareí, apareceu na outra margem.
– O Jacaré! – gritou alguém.
– É o rei, é o único que consegue viver aqui.
– Vamos tacar pedras nele, não ajudou a salvar a macaquita.
Quando iam começar o apedrejamento uma voz foi ouvida, que causou um silêncio instantâneo:
“Parem de arremessar objetos no rio!”
Entreolharam-se, a multidão assustada ficou muda, até que um ancião arriscou uma pergunta.
– Quem falou?
Continuaram em silencio, ninguém falou, pararam, ganharam a consciência quase que coletiva e nunca mais macaco nenhum jogou objetos no rio. Começaram a dizer que o além se comunicava com eles nas margens. Cuidavam para se reunirem, passaram a se encontrar todos os finais de semana.
No primeiro aniversário do falecimento da macaquita o rio estava limpo. No fundo podiam ser vistos, peixes, jacarés e muitos outros animais aquáticos. A água do rio, às vezes, servia de espelho para os macacos mais vaidosos. Olhavam seus rostos refletidos.
– Hum, hum, hum.
– Ah, Ah, ah.
Todos queriam esquecer a morte da macaquita, mas ela estava na memória de todos e servia de referência para um rio saudável e o que podia proporcionar para a comunidade.
E assim alguém sempre refletia sobre o raspão da ética que tanto havia jurado em sua formatura.
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