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Os Manuais de Política na Idade Média

Por Jessé Salvino Cardoso.

politicaAntigaNeste artigo se propõe a discutir atentamente a política em suas múltiplas facetas. Na perspectiva antropológica a política pode ser vista em três ângulos diferentes, mas que se interagem entre si ao longo da História da humanidade, tal interação abre um conjunto infinito de nuances que produziram tipos e ideologias, que assim permeiam nosso pensamento quando tocamos no assunto.

Que o leitor pode olhar com mais atenção, nas linhas seguintes: no ângulo ocidental que abrange todo o continente europeu, onde se nasce ás origens da democracia que temos conhecimento.

Após termos concluído as colunas da série da Antiguidade Clássica, e agora inicie sobre a política nos meandros da Idade Média. Nesse momento, irei tratar da escrita e posterior divulgação de tratados de cunho político que não eram muito numerosos na Idade Média.

Os tratados geralmente saiam da pena de padres e nobres que desejavam ascensão na hierarquia, seu interesse era facilmente entendido pelas condições já comentadas em outras colunas, era um verdadeiro jogo de xadrez.  A ascensão era uma forma de driblar os moleiros teimosos e lidar com iracundos ferreiros.

A nobreza e a massa camponesa dividiam espaços em quase tudo, mas não na administração de seus castelos e nada do poder político com dimensão de compartilhamento com os mais fracos, em termos claros os pobres da terra. Retomando á escrita desses manuais cujo propósito é ensinar a outros a funcionalidade da política e seu modus operandi, em termos práticos, poucos governantes recorriam a eles, somente no momento de extrema necessidade via alguma solução em alguns escritos.

Os governantes mais práticos, liam os manuais somente quando realmente se fazia necessário, quando surgia alguma rebelião ou motim entre os camponeses descontentes e moleiros afiados em seus discursos inflamados contra a autoridade nada agradáveis dos senhores feudais, segundo Quentin Skinner no seu livro Os Fundamentos do Pensamento Político; que eles surgiram no advento da Alta Idade Média, em especial no período do Renascimento, cultuado muito entre os humanistas da época.

Em concordância com Skinner, á escrita desses manuais via a democracia prática com um olhar desconfiado e neutralizava qualquer tentativa de uma possível mudança no que diz á respeito da massa camponesa, isso permite entender de forma dogmática que o núcleo duro do poder e da administração se fazia com belos discursos e ações vingativas.

Os humanistas por outro lado viam isso com maus olhos, os estudiosos e pensadores questionavam em termos categóricos a ausência total do povo nas decisões importantes.

Eles entendiam que sem o povo de forma plausível, não existe um governo adequado sem o povo, nisso tinham certa razão e visão. Os nobres viam nisso um risco para a perpetuação do poder, no que tange aos moleiros e companhia. Os nobres concebiam de forma impessoal a presença dos pobres, num conceito puramente abstrato em seus escritos, tornavam eles semelhantes a espíritos ou algo nesse sentido.

Os nobres viam nos manuais apenas a função didática e nada a mais que deveria ser considerado em conformidade com os princípios decididos pela nobreza em conexão com a Igreja. Se algum nobre tivesse simpatia pelos pobres, era desconsiderado por integrantes dessa conexão simbiótica.

A sabedoria dos clérigos clareava as decisões mais obscuras e decantadas, o pobre moleiro não podia lutar pelos pobres lavradores, seus pares sofridos e negados pela bula aristocrática.

Essa mentalidade traduzida por rejeição econômica dominava o cenário político, e gerava conflitos entre classes sociais e econômicas. O mais atingido com certeza, não era só o moleiro, mas o silencioso ferreiro sofria retaliação ideológica e sobrecarga de serviço, essa negligência em relação aos pobres da terra era notória e feria os ideais concebidos pela mentalidade rural comungada pelos pobres, em termos práticos, essa mentalidade permeou as disputas políticas em toda Idade Média.

Isso deixa claro como funcionava o mundo medieval e anulava qualquer alternativa de solução ao dilema sofrido por pobres e lavradores, e um prenúncio de um novo tempo se anunciava naquelas redondezas, sabemos que o advento dos tempos, mudanças deveriam ocorrer em curto prazo.

Nesse caso os manuais serviram como uma parte de mudança em processo e rompia com essa costura de igreja e Estado na concepção medieval. Visto que tal costura nunca deu certo, e eles cessaram essa união nada adequada ao mundo da época.

Os manuais nada mais foram o primeiro passo para a Modernidade no mundo teocêntrico e impiedoso da Idade Média, era necessário chegar um novo tempo para os pobres da terra.

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