Dois Docentes e Uma Livraria

Por Jessé Salvino Cardoso.

O viajante ao viajar busca entende-se melhor a si mesmo e a olhar o mundo em outras perspectivas. O autoconhecimento é ainda uma das facetas do longo processo que e a viagem em si.

Trata-se de uma fuga não declarada dos problemas familiares e cotidianos que azedam semanas e dias, e a fuga serve para isso, cada viajante parte em busca de uma aventura que possa viver em paz e tranquilidade durante alguns dias da sua vida. A busca por aventura ou experiências agradáveis deve também fazer parte do pacote, é uma parte importante de todo o processo, é um esforço para sair da rotina, e requer planejamento e outros detalhes como preparar malas.

E parte rumo á rodoviária ou aeroporto, e os trâmites aí envolvidos. Nessa coluna, em que dois docentes se encontraram num dia, antes de irem para os seus respectivos destinos. Um deles queria comprar um presente delicado para o seu tio que faria aniversário em breve, o segundo comprara livros para presentear seus alunos em uma escola no interior do Estado.

O atendente muito educado por sinal apresentou os livros instigantes para uma leitura construtiva e consciente, estudante de Geografia e que conversava com o professor advindo do interior, acerca dos lançamentos juvenis indicados para seus alunos queridos, ao se conhecerem um professor de filosofia e o outro de literatura trocaram figurinhas acerca das escolas e educação em geral, parecia um diálogo interessante e produtivo.

O primeiro falou acerca de suas riquíssimas leituras filosófico e o segundo de leituras e indicações também ricas advindas da literatura e seus poderosos atributos e deu dicas graciosas de livros potentes para ajudar no árduo trabalho de ensinar, e também se realizou comentários sobre seus alunos que ainda tinha alguma forma de influência positiva.

E posteriormente se comentou sobre os rumos da educação no Estado e por extensão no país, mas não ficou apenas nesses assuntos intermináveis que tangem sua função social como formadores de pessoas.

O prodigioso comentário sobre a Literatura Infantil a partir dos contos de fadas analisados pelo prisma da Psicanálise de Bruno Bettelheim e seus seguidores em uma ótica bem reservada do comum e óbvio, da ótica filosófica do docente interiorano adveio uma mentalidade de certo desconhecimento e ignorância acerca do tema.

Por outro lado o literato descortinou esse mundo novo e abrandou simultaneamente a diferença de formações acadêmicas e apresentou outras indicações de livros e evocou os livros sábios de Slavoj Zizek. Um detalhe desse sábio diálogo em uma livraria, não deve ser esquecido a mediação do atendente.

O rapaz em questão tinha uma visão pós-moderna com o presente e futuro, escutava as palavras de um e outro, e numa de suas palavras disse: – “A vinda de dois professores é símbolo profético, e nisso tenho razão para ampliar um espaço de cultura e debate social, em óticas diferentes abordam o mundo e estimulam a pensar. Ainda que fatos como esses demorem a acontecer aqui nessa livraria.” A opinião em si comprova a variável mudança de pontos de vista incendiou a livraria e seus clientes que gostaram muito desse acontecimento.

O saber enciclopédico do atendente ajudou muito nas escolhas de livros que logo chegariam às mãos dos presenteados, que foi forjado á contento do pleno entendimento dois docentes. A resenha desse encontro não foi parar na mídia famosa, aliás, a mídia fala mal do professor e não o defende da sua amarga função que fere sua capacidade ideológica.

Os dois terminaram ali seu longo diálogo á Benjamin, e de fato as cosmovisões destacadas se adaptam ao conceito de presença que o Sepp já trabalhou em Sentido da Presença mencionada em outras colunas aqui neste jornal.

As virtudes foram descobertas graças á um diálogo comum nada tolo e sim muito produtivo e cônscio de uma função de formar e educar pessoas para a vida, sem deixar marcas indeléveis em seus ouvintes não convidados que estavam no espaço.

Após esse sábio relato, somente nos resta uma indicação de livro O Fracassinho de Gary Shteyngart, foi o melhor que conseguimos durante a viagem, um livro de memórias advindo das suas origens russas e seu posterior sucesso nos Estados Unidos, uma leitura agradável para as viagens longas e curtas.

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