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Por Renato Muniz B. Carvalho.
Mesmo o mais simples e despojado mortal tem de ir às compras um dia. O Problema é que ele nunca está só, ainda mais se a opção for num supermercado, se o dia da semana for sábado e o horário por volta de 20 horas. Acho que descobri uma das razões pela queda de audiência na TV, um dos motivos para os congestionamentos no trânsito em pleno sábado à noite é uma das explicações mais plausíveis para o crescimento econômico do país , não obstante a choradeira geral: as compras. O mundo nunca mais foi o mesmo depois que inventaram os supermercados.
Louça do jantar lavada e guardada, banho tomado, roupa de passeio e a família reunida vai as compras. Dos mais novos a mais velhos, só os cachorrinhos e gatinhos ficam de fora. Apesar de muitos serem considerados como membros da família. Todos animados, as crianças sonham com um chocolate, as mães repassam a lista na cabeça, preocupadas em não esquecer nenhum item. Os responsáveis pelo orçamento calculam o tamanho do rombo nas contas domésticas. Namorados e namoradas, vovós e solitários à procura de uma alma gêmea,parece até que todos marcaram encontro debaixo da estrutura metálica que abriga centenas, talvez milhares de itens que vão desde artigos esportivos até carnes, laticínios e produtos de limpeza. Tudo de uma utilidade a toda prova, como as infinitas marcas de xampus para todos os tipos imagináveis de cabelos.
Ao chegarem, o supermercado favorito já está cheio, transbordando gente pelos caixas. Custoso é arrumar vaga para estacionar o carro. Depois a luta pelo melhor carrinho, de preferência um cuja rodinha não esteja quebrada, em que ninguém tenha derrubado iogurte, cuja alça não esteja grudenta de doces, gordura e resto de frutas consumidas nos corredores mesmo.
Lá dentro sempre é dia claro, temperatura controlada, organização cartesiana, grandes placas indicam onde os produtos estão à espera do freguês. O ideal é percorrer todas as gôndolas, comparar os preços, coisa que alguns fazem com uma atenção religiosa de tão compenetrados.
Difícil é passar pelo caixa. Filas, imensas, demoradas, esse é o momento da provação suprema, onde te testam a paciência e a capacidade de suportar os males do mundo. De pé, carrinho a postos, outros à sua frente, a escolha certa é importante nesse momento. A análise deve levar em conta qual caixa é o mais vazio, ou qual mocinha é a mais esperta na hora de passar os produtos. Muitos produtos ficam pra trás, palavras gentis valem pouco. Quando chega a sua vez, tensão e alívio, atenção aos preços, verificar a somatória, embalar, e toma sacola plástica. Elas brotam de um reservatório que aparenta infinito tal a quantidade. Qual o seu destino? A rua, os bueiros, o lixo.
O passeio dura cerca de uma hora. Todos se divertiram, a despensa está abastecida, pena que o sorvete derreteu na fila. Em compensação, alguns conhecidos estavam lá também , deu até para reparar no vestido fora de moda da vizinha e na quantidade exagerada de cerveja que o vizinho levou ora casa. Vida moderna numa cidade progressista é assim.
Este texto foi extraído do livro: Crônicas Impertinentes, de Renato Muniz B. Carvalho.
www.choraminhices.com.br.