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Por Renato Muniz B. Carvalho.
Às 18 horas em ponto toca a campainha. Fui atender e o jovem vizinho do apartamento ao lado me pergunta se sou o síndico. Digo que sim e pergunto: “ Em que posso ajudá-lo?” . Ele hesita um instante e eu começo a imaginar o que seria. Será uma queixa? Um pedido? O empréstimo de uma ferramenta ou o telefone do encanador? Uma explicação sobre o último aumento da taxa de condomínio?
O rapaz é novo, uns vinte anos, no máximo. Universitário, mora com colegas. Veio, provavelmente de alguma cidade menor, de outra região, em busca de estudo, cursinho, faculdade, não sei. Tem carro, veste roupas novas e de marcas famosas. Um defeito, sob a minha ótica, é gostar de ouvir músicas de gosto duvidoso em alto volume, às vezes ultrapassando o horário permitido.
Solícito, insisto: “pois não?” E ele então pergunta: “ É possível cortar as árvores que ficam em frente do prédio?” O pedido me pega desprevenido. Achei que não tinha escutado direito e pedi que repetisse. Era isso mesmo: queria que mandasse cortar as árvores, meia dúzia de arvorezinhas, que estão na calçada em frente ao prédio. Embasbacado, indago qual a razão de tal pedido. Ele explica que à noite elas fazem muita sombra e impedem a iluminação. Digo que seria melhor instalar novas lâmpadas ou mudá-las de lugar e que isso resolveria o problema. Mas ele insiste. Diz que as árvores não servem para nada e que as folhas sujam a calçada. Retruco e afirmo que elas fornecem sombra às pessoas que passam pela rua durante os dias de sol quente, e que as sombras são disputadas pelos carros que por ali estacionam, mas percebo que não o convenço.
O que se passa na cabeça desse jovem? Ou eu é que não consigo acompanhar o raciocínio da nova geração? Ou é a nova geração que se pauta pela velha? Que enrascada! Como sair dessa?
Acreditava-se, no passado, que o comportamento irresponsável em relação ao meio ambiente pertencia à velha geração. Que, por terem crescido numa época em que problemas como acúmulo de lixo, poluição de rios e desmatamento intenso não eram tão impactantes, como depois dos anos 1970, isso não mobilizou os mais velhos com a necessária contundência para impedir a degradação ambiental. Muitas teorias defendem a ideia de que basta educar os mais novos. Parece que não é bem assim. A situação é bem mais complexa e não será tão simples, muito menos por um ato de vontade, que se mudará o mundo, a realidade, o comportamento humano.
Tentei explicar ao jovem vizinho que não concordava com o corte das árvores. Falei sobre a importância delas para o ambiente urbano, falei de conforto urbano, da presença de pássaros, do significado delas para a infiltração e, por fim, achei e falei demais. Não sei se ele entendeu ou se deu por vencido. Da minha parte, vou ficar mais esperto: certas questões parecem que nunca estão resolvidas, é preciso estar sempre atento.
Este texto foi extraído do livro: Crônicas Impertinentes, de Renato Muniz B. Carvalho.
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