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Por Renato Muniz B. Carvalho.
Eu não sei se vocês tem o mesmo costume, mas eu gosto de olhar pelas janelas. Essa é uma das primeiras coisas que eu faço quando acordo. Levanto-me e vou olhar como está o dia.
Observo demoradamente, quase em contemplação, a situação do céu. Tento entender o movimento das nuvens, quero adivinhar como se comportará o tempo, se vai esquentar ou vai fazer frio. Confio mais nessa primeira olhada do que nas previsões dos jornais ou da Internet.
Quanto maior o campo de visão, melhor o prognóstico, maior a satisfação de sentir que fazemos parte do mundo, que a terra continua linda e que estamos vivos. Olhando pela janela eu tento entender quais são as possibilidades de uma manhã clara com sol. Ou então, tento me preparar para um dia que já nasce escuro, com um horizonte cheio de nuvens.
Uma janela não foi feita só para ser aproveitada nas primeiras horas da manhã, mas durante todo o dia: no meio, à tarde, à noite e até de madrugada. É preciso ficar atento às mudanças, às revoadas de pássaros, ao vento que sopra, ao semblante das pessoas que passam. Uma manhã chuvosa pode se transformar num dia de muito sol ou o contrário. Um dia chuvoso pode vir a ser uma bela noite com estrelas visíveis e temperatura agradável.
Nada melhor do que poder observar a chuva que cai bem tarde da noite quando a cidade descansa. Estico as mãos só para sentir a água fria que limpa as ruas e escorre mansamente, sem causar transtornos aos que ainda transitam nas calçadas, aos que se dirigem para suas casas em meio à escuridão.
As janelas, apesar de não se moverem, nos revelam diversas paisagens que se modificam a cada instante. Nos indicam a velocidade do vento à medida que mostram folhas voando, galhos balançando, as nuvens passando. As janelas nos permitem, quando estamos dentro de um prédio ou uma casa, o contato com o mundo exterior, nos permitem perceber a passagem das horas, as mudanças meteorológicas, o processo histórico materializado no ir e vir das pessoas, nas manifestações,nos acidentes de percurso, na monotonia ou na agitação. Imagino como deveria ser terrível a vida dos trabalhador que no início da Revolução Industrial passavam a maior parte do dia em galpões escuros, sem janelas, que se dirigiam ainda de madrugada para o trabalho e daí só saiam Já noite.Imagino a vida infeliz daqueles que não tem sequer um momento para admirar a paisagem proporcionada por uma janela aberta.
Até os animais gostam de observar o mundo através de uma janela. Como eles não tem muitas obrigações podem ficar horas e horas só vendo quem passa, quem sobe e quem desce a rua. Coisa mais curiosa é ver um gato ou um cachorro no parapeito de uma janela e a atenção danada com que eles observam o movimento.
Existem janelas de diferentes tipos, tamanhos e modelos. Em algumas regiões do Brasil Colônia, as casas dos mais abastados eram os que tinham a maior quantidade de janelas. Janelas podem indicar posição social, pode aparecer com um sentido figurado e até como nome de empresa. Pouco importa, prefiro pensar nas janelas como dádivas e opções para as crianças e os mais idosos, principalmente quando eles tem tempo. O olhar pela janela carrega uma certa melancolia. Talvez seja a expectativa do que está por vir ou a nostalgia do que já se passou.
Olhar pelas janelas é um privilégio, é uma arte, é uma oportunidade que devemos agarrar antes que a paisagem seja abolida e em seu lugar instituída, de uma vez por todas, a feia parede cinza do prédio vizinho, a tela da TV ou do monitor do computador.
Este texto foi extraído do livro: Crônicas Impertinentes, de Renato Muniz B. Carvalho.
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