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As Lembranças em Migalhas

Por Jessé Salvino Cardoso.

viagem4O viajante ao viajar busca entende-se melhor a si mesmo e a olhar o mundo em outras perspectivas. O autoconhecimento é ainda uma das facetas do longo processo que e a viagem em si.

Trata-se de uma fuga não declarada dos problemas familiares e cotidianos que azedam semanas e dias, e a fuga serve para isso, cada viajante parte em busca de uma aventura que possa viver em paz e tranquilidade durante alguns dias da sua vida. A busca por aventura ou experiências agradáveis deve também fazer parte do pacote, é uma parte importante de todo o processo, é um esforço para sair da rotina, e requer planejamento e outros detalhes como preparar malas. E parte rumo á rodoviária ou aeroporto, e os trâmites aí envolvidos. Nessa coluna, abro a coluna divisando as realidades da nossa memória em estado de fragmentação, como você pode lembrar-se de tantas situações em pouco tempo de viagem?

As lembranças são como peças de um grande quebra-cabeça que estão separadas umas das outras em locais distantes, em que quando juntas formam o mosaico chamado Vida.

Os acontecimentos em nossas vidas sucedem como migalhas de pães caindo da mesa em efeitos de cascata, esse desmonte da memória facilita o entendimento do mundo, os fragmentos são as conexões fechadas que ainda não encontraram a parte perdida.
Em minhas viagens foi necessário encontrar as partes perdidas que as complementavam em algum ponto, e assim condicionavam o entendimento pleno dos acontecimentos.
Segundo o historiador François Dosse, o tecido histórico é feito a partir de fragmentos minúsculos de menor importância e fragmentos gigantescos de grande importância, e esse tecido sempre está acrescentando os fragmentos e assim dando sequência a construção do mosaico.
Retomando assim a viagem e as lembranças, se faz necessário encarar as verdades acerca dos diálogos relatados da coluna anterior. E assim traçar um mapa de valores sagrados ao longo de um determinado tempo, e remontar o passado conectado ao presente.
Ao conversar com as pessoas de minha cidade natal, reacendo a capacidade de conectar as lembranças como peças do quebra-cabeça gigantesco, esse esforço demandou muita energia e paciência, ao localizar situações do passado recente. Esse tempo fragmentado demonstra que mundo gira em seu eixo, mas as coisas também mudam no descer e subir das areias da ampulheta.

Nesses diálogos com os parentes, boa parte deles iluminava a verdade acerca das origens da família em questão, no propósito de resgatar as lembranças por hora ali perdidas e despedaçadas em razão dos inúmeros acontecimentos que marcaram essa família.

Meu esforço demandou inúmeras vias de entendimento, em que momento tinha que parar e reagrupar tudo o que já tinha ouvido e tentar encaixar peça á peça desse quebra-cabeça. As peças eram complexas e difíceis de encaixar, todavia com o tempo tudo foi para o seu lugar.

Segundo o historiador François Dosse compartilha conosco a ideia de que nossa história de vida ou a biografia em geral seja feitas de migalhas do tempo comum onde vivemos, em ações bem simples como andar e caminhar, sugere esse compromisso com a durabilidade da existência.

Ele ainda supõe também que nossa vida seja uns enormes quebra-cabeças a ser montado e alterado passo a passo, em um processo de rotação. E agora anexando as ideias do historiador com as lembranças, talvez ele tenha razão ao usar essa mentalidade e ponto de vista.

Dosse ainda acrescentou que a nossa vida pode ser entendida e compreendida como uma mortalha a ser tecida, e ser desfeitas por outros até ser queimada nas chamas do esquecimento que a sociedade mantém acesa ao longo da existência. Agora, caro leitor essas comparações campesinas simulam o desenho complexo do que mais damos valor que é a Vida e suas nuances.

A visão acadêmica e filosófica do historiador demonstrou por outro as minúcias que dão cor a mesma, essas minúcias diferenciam a nossa vida da vida de outros. E também permitem fazer uma breve reavaliação de nosso viver, e verificar onde está se errando ou falhando.

Ele também sinaliza os riscos de não se observar esses liames que tecem a nossa vida, essa anexação de dois temas provoca a leitura sintomática do livro A História em Migalhas de François Dosse. Caro leitor, esse livro traz dicas insondáveis, é um convite para sua leitura produtiva.

Associe que suas lembranças são como migalhas de pães que caem á mesa, assim as partículas da nossa vida, que logo se passam como a chuva serôdia. Meu caro leitor tenha uma boa leitura do livro a História em Migalhas de François Dosse. Até a próxima coluna.

www.choraminhices.com.br