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Por Renato Muniz B. Carvalho.
Foto ilustrativa: Tela do mestre Athaide – Museu da Inconfidência.
Uma cidade se destaca por suas características próprias. São essas características que tornam única cada uma das cidades existentes no mundo. Não existe nenhuma cidade igual a outra. São milhares de cidades e, mesmo que algumas se pareçam muito, conservam sua identidade própria.
Inúmeras variáveis contribuem para a diferenciação. A história de cada uma delas, a população que habita suas casas, que frequenta suas ruas, o povo que trabalha e constrói cada esquina, cada canto. O relevo tem papel importante nessa caracterização, a presença de rios, córregos, montanhas, colinas, o vento, as árvores, o tipo de solo. Paris não seria Paris sem o Rio Sena assim como Roma sem o Tibre e Londres sem o Tâmisa. A doce Lisboa e o Rio Tejo guardado pela Torre de Belém. Sevilla e o Guadalquivir, nome curioso de um rio verde e uma ponte futurista. Todas tem seu rio e não são iguais, muito menos parecidas. São Paulo não nasceu às margens do Tietê, mas sua história ligou-se a ele de modo inevitável. O rio de Janeiro é o mar, as montanhas, o relevo recortado, a floresta da Tijuca, o morro carioca e suas favelas, o contraste entre a riqueza e a miséria.
Cada cidade com seu rio, seu mar, sua montanha. Seus rios cobertos, seus canais descobertos, como Veneza. Seus córregos limpos ou poluídos, córregos que invadem as ruas e as casas no tempo das águas violentas do verão brasileiro, cujos governantes, sem entender a dinâmica da natureza e sem querer entender a dinâmica social, sem culpa, que trazem doenças e acentuam a pobreza.
Existem cidades grandes e pequenas, cidades de uma rua apenas, cidades imensas como a Cidade do México e Tóquio, cidades pequenininhas que nem aparecem nos mapas. Cidades antigas, históricas, como Ouro Preto, Olinda, Florença, Toledo e tantas outras consideradas patrimônio da humanidade. Umas antigas, muito velhas, e outras novas, como Brasília, construída no meio do cerrado para ser a capital do “país do futuro”. Cidades com origem diversas, como guerras, conquistas de territórios, criação de escolas, de fortalezas, mineração, instalação de indústrias, passagem de estradas e por aí afora. Cidades mitológicas, cercadas por magia e histórias místicas, como Moscou e a história da própria Rússia, seus ícones e imagens contraditórias que povoam nossas fantasias políticas: o Kremlin, a praça vermelha e seus desfiles militares na era da Guerra fria. Atenas, na Grécia, com tudo o que envolve a mitologia grega. Roma e a história da loba romana amamentando Rômulo e Remo, iniciando o povoamento de uma cidade e a criação de um império a partir da colina Palatino. Roma com suas fontes, suas praças, suas vilas, seus museus. Roma incendiada por Nero, saqueada, centro do Renascimento, sede de um Estado dentro de outro.
Cidades trágicas, como Hiroshima e Nagasaki, que sentiram pela primeira vez a força estúpida da bomba atômica. Guernica, na Espanha, sede do conselho de anciãos do povo basco, destruída pela aviação nazista durante a Guerra Civil Espanhola; retratada de modo tão contundente por Picasso. Canudos, no sertão da Bahia, construída pela fé de um povo faminto e destruída pela ignorância de uma classe dominante bruta a não querer mais. Chernobyl na Ucrânia, e Goiânia no Centro Oeste do Brasil, atingidas pela insistência burra em manipular sem segurança a energia nuclear. Izmir, na Turquia, epicentro de um violento terremoto, cuja força incontrolável matou dezenas de milhares de pessoas. Culpa da natureza ou de construtores irresponsáveis e um crescimento urbano feito para atender aos grandes especuladores?
Cada cidade tem suas ruas, suas praças, suas árvores, suas escolas, seus becos, seus cheiros e seus sons. Cada um de nós tem sua cidade ideal, a cidade de nossos sonhos, a cidade que construímos, a cidade que queremos para viver. Mas, há, também, a cidade que querem tomar de nós a cada instante, a cidade que nos prende e, se liberta, também oprime. Qual delas nos interessa?
Este texto foi extraído do livro: Crônicas Impertinentes, de Renato Muniz B. Carvalho.
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