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O Paraíso fica no outro lado

Por Davambe

burro1A alvorada era muito linda no universo do coração que mantém um corpo em movimento na cachoeira do poraquê e foi assim por muito tempo, a cada dia que a inteligência mãe permitia que o sol brilhasse. Ela triste, queixosa e danada porque achava que seu corpo não acompanhava mais sua alma e trabalho não faltava. Alguém que se intitulava sua dona a fazia trabalhar, tinha pressa queria com ela ganhar muito dinheiro.

O que ela sempre desejava era dormir e tinha que ser à noite, corria para cama e, em poucos minutos estava dormindo. Via uma floresta repleta de passarinhos de todas as cores a cantarem alegremente: Eram beijas-flor, canarinhos, curió e todos os demais que uma floresta tem a grata satisfação de oferecer a quem por lá passa. A noite eram agradáveis as imagens que a visitavam. Maravilhada, acordava com uma disposição de criança para correr atrás de bola ou pipa. Seu confidente já conhecia toda a sua história e vivia a ruminar por nunca ter sonhado com um paraíso como aquele, andava preocupada. A Mula já era velha, mesmo assim era obrigada a carregar e executar todas as demandas, treze horas ao dia.

– Se eu sonhar como você, acho que me mataria, só para tomar conta desse paraíso.

– Será que o paraíso é tudo isso que sonha?

– Você ainda duvida? Eu não tenho dúvidas.

– Se eu tivesse essa promessa me matava agora. Não aguento mais carregar essas encomendas que nem sei o que levam.

Vendo o interesse da mula em experimentar o paraíso, a jumenta ensinou-a como alcançar a floresta do sonho. No primeiro dia a mula não conseguiu dormir. Ficou a cochilar o dia inteiro, recebeu em troca, muita chicotada.

Ela não desistiu, no dia seguinte tentou de novo, mas quando começava a ver os primeiros passarinhos com pelagem preta em volta da sua colega, o despertador tocou. Levantou correndo para não perder a hora.

Ela procurou a amiga para contar do ocorrido, que naquele não apareceu. Havia partido para o paraíso. Sua primeira reação foi chorar lágrimas doces.

Mas as lembranças, às vezes, são cruéis, ficaram exigindo que ela lembrasse dos últimos dias com amiga. Ela tinha certeza de haver lugar melhor, como alcançar?

Desgraçadamente, quando chegou a hora de voltar para casa, seu chefe apresentou-lhe uma atividade inadiável que tinha que ser executada àquela hora.

Teve crise de choro, choramingou para ninguém ouvir, berrou, chorou derramando lágrimas salgadas. Não teve quem não olhasse. A mula ficou emburrada e empacou, queria voltar cedo para casa tinha que praticar para visitar no sono o paraíso e trocar experiências com a amiga.

“Calma, não chore!”, disse O seu chefe, completando “juro que não vou mais pedir que faça trabalho extra, é só hoje.”

A mula continuou chorando empacada, dizia que merecia descansar, ter vida fora da empresa, cuidar de ócio, que nunca conseguiu usufruir nos últimos trinta anos que estava no departamento, devido ao caráter emergencial das demandas que lhe eram apresentadas.

“Quer saber duma? Está faltando alguém que faça planejamento decente, todo o dia é a mesma enrolação”, concluiu a mula desmaiando de desgosto. Desabou. Suas patinhas gelaram, a boca a espumar. Seu chefe saiu correndo a procurar quem pudesse executar a atividade, mas ninguém estava para escutá-lo. Foram socorrer a mula.

A coitada estava estirada ao chão, aos poucos seu corpo foi desaparecendo, primeiro as patas, segundo o rabo, a cabeça e todo o corpo. Apareceu no local uma estrada infinita asfaltada e um pintinho amarelo. Piou, foi inchando, aumentando de tamanho, a crescer, crescendo em seguinte explodiu. A chuva de granizo principiou, choveu intensamente e todos saíram correndo em busca de abrigo.

Davambe.

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