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Por Renato Muniz B. Carvalho.
Comemorar o Dia Internacional do Meio Ambiente em países do Hemisfério Sul não é tarefa fácil. A falta de criatividade dos governantes, aliada Ao crônico desprezo e consequente desconhecimento do tema, soma-se a estação seca para atrapalhar os planos dos burocratas e cerimonialistas encarregados das solenidades comemorativas.
Tome-se, por exemplo, o caso da cidade de Abacaxi do Norte, próspero município localizado no sul do estado. O prefeito resolveu comemorar o Dia Internacional do Meio Ambiente com pompa e circunstância. Convocou o secretariado bem cedinho, colocou a imprensa de prontidão e disparou ordens para tudo quanto é lado, na devida conformidade de seu peculiar estilo de capataz do boteco da esquina.
A ordem era plantar mil árvores, de qualquer espécie, na manhã do dia em foco. E lá se foram os plantadores de árvores cumprir as ordens do alcaide, cada um com uma mudinha na mão, que a pás e enxadões ficariam por conta de braçais, pois que as autoridades não iam sujar as mãos com essas imundícies de terra,minhocas, bactérias, besouros e outros insetos assemelhados.
Sob um sol escaldante, porque a cerimônia atrasou, perfilaram-se os convidados e, após um grito entusiasmado de “plantar”, todos iniciaram o ritual, desajeitados, e depositaram as mudas nas covas antecipadamente preparadas. Depois se retiraram e cada um foi cuidar de seus afazeres. Só ficaram para trás Dona Zulmira o primo Altamirando. Fofoqueiros que são, comentavam: “será que chove Hoje?”.
A diretora da escola, para não ficar de fora da data, também resolveu comemorar o dia. Encarregou a secretária de comprar trezentos pintinhos de um dia, pintar a metade de verde e a outra metade de azul, para entregar para as crianças no dia cinco de junho. Uma beleza! Além de tudo, patriótico. No dia da distribuição foi uma correria só, pois o Zé faltou e ele é que deveria distribuir os pobres filhotes de galináceos aos meninos. Quando Dona jurema deu a ordem, cada um avançou como pode e foi asa, pescoço e bico azul para um lado, coxinha e cabeça verde para outro, e mais da metade dos pintainhos morreu na hora. A outra metade não resistiu ate a noite.
O Otacílio do Botequim também resolveu comemorar o dia do meio ambiente. A onda verde avançava sobre a progressista Abacaxi do norte! Pois o Otacílio, reunindo-se com o comando superior do botequim,isto é, com seus conselheiros para assuntos de efemérides, resolveu organizar uma grande carreata. Isto mesmo! Uma carreata, de carros, motos e, se for possível, até caminhões. Imprimiu milhares de panfletos e cartazes no computador do filho com os seguintes dizeres: “ Grande carreata ambientalística” e saiu por aí pregando cartazes e distribuindo panfletos. Os carros deveriam comparecer ambientalmente trajados, segundo as explicações que dava aos fregueses e adesistas. No dia marcado, muitos veículos, fazendo um verdadeiro buzinaço, percorreram várias ruas da próspera cidade, para alegria do dono do posto de combustíveis.
O clube dos criadores de pássaros também resolveu aderir às comemorações e convocou os associados para uma competição de aves cantoras. Dentro de suas minúsculas gaiolinhas, os pássaros abriram o bico enquanto seus proprietários molhavam o próprio bico.
Nunca se viu tanto louvor ao meio ambiente como naquele dia em Abacaxi do Norte. Se restou alguém inconsciente da importância do meio ambiente após aquela data é porque essa pessoa não pensa nada mesmo.
Este texto foi extraído do livro: Crônicas Impertinentes, de Renato Muniz B. Carvalho.
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