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Varandas

Por Renato Muniz B. Carvalho.

varandaUma das coisas que mais gosto na vida é de uma varanda. Isso mesmo! uma varanda, ou alpendre, como preferirem. Se quiserem saber a diferença, consultem um dicionário. No meu léxico sentimental, no repertório das minhas memórias, varandas ou alpendres tem o mesmo significado. O que eu quero é um lugar onde eu possa verificar o tempo passar. Um lugar onde pessoas possam se reunir para conversar, jogar conversa fora, tomar um bom café, fazer um lanche, ler um livro, contemplar as transformações da paisagem.

Uma varanda tem inúmeras utilidades. Pode ser usada durante o dia, durante a noite. Pode ser um bom local para se admirar a lua, os pássaros, as árvores, os veículos, as pessoas. Nas cidades do interiro, as varandas são observatórios privilegiados. Dali se fiscalizam encontros e desencontros, namoros e separações. O bom da varanda é que ela não oculta quem observa, ao contrário de uma janela ou de uma cortina numa sala. Se a varanda expõe o observado, ela também revela o observador.

Da varanda se pode acompanhar o barulho das ruas, o movimento da cidade ou do campo. Da varanda se pode usufruir o silencio, as calmas e recolhidas noites de inverno ou se refrescar nas quentes tardes de verão.

Temo pelo futuro das varandas. Muitas pessoas trocaram as varandas pela sala de televisão. A pretensão da televisão era ser uma varanda aberta para o mundo, mas ela não conseguiu. As casas modernas aboliram a varanda, pelo menos na sua concepção original. As varandas de hoje, quando existem, estão voltadas para dentro.Do lado de fora apenas grades pontiagudas e muros altos. Como as varandas são locais de conversa, de encontro, de observação, de ver e ser visto, as varandas internas perdem muito seu charme, seu significado. A cidade moderna escondeu seus moradores,escondeu-se da violência.tem medo.A cidade moderna corre muito, aumentou sua velocidade, seus ritmos, mas diminuiu espaços de conversa, áreas verdes, espaços comuns de convivência.

A varanda já foi objeto de todos os cronistas, de Rubem Braga a Mário Prata, sempre aconchegante, curiosa, bisbilhoteira,desde as varandas pequenas àquelas que circundam toda a casa, rodeando salas,quartos, cozinha. Varanda é mais do que balcão, é mais do que  um pátio coberto ou mero prolongamento da sala. Varandas têm identidade, têm móveis próprios, têm gancho para redes, têm bancos onde sempre cabem pelo menos dois. Varanda boa é a que permite brincadeiras de crianças, uma boa leitura, um bom momento de sossego. Varandas fazem falta na vida da gente.

Este texto foi extraído do livro: Crônicas Impertinentes, de Renato Muniz B. Carvalho.

www.choraminhices.com.br

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