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Por Renato Muniz B. Carvalho.
Gosto de caminhar. Caminhar, aqui, pode ser lido de diferentes maneiras. Para caminhar não interessa tanto a direção, importa percorrer distâncias. As distâncias me parecem relativas, dependem das suas próprias características e das do caminhante. Às vezes, o significativo é o trajeto, noutras, é o ato de caminhar. Distâncias, é bom que se diga, não são apenas físicas, estas costumam ser até mais fáceis de serem transpostas do que as outras.
Gosto de caminhar sabendo para onde vou, por que caminho e por onde ando, mas é preciso estar preparado para as surpresas e intempéries do caminho. Às vezes, é interessante sair sem saber para onde vamos, só pelo sabor do caminhar. Nos dias de hoje, caminhar é um exercício de equilíbrio, de malabarismo existencial, tomando cuidado para não sermos atropelados. Nem todas as pessoas conseguem, muitos se perdem nos caminhos da vida, mas não gostaria de transformar este escrito num jogo de autoajuda. Cada um que faça seu próprio caminho e tire suas próprias lições, não sei se existem receitas, do tipo qual sapato usar ou não se esquecer do filtro solar.
São muitas as distâncias a percorrer. A distância de um ano a cumprir no trabalho, na vida, a distância limitada de um dia de 24 horas e a que pode ser ilimitada dentro de apenas um segundo. As distâncias físicas, no espaço, nos territórios traçados pelas sociedades humanas, encolhendo-se diante de meios de transporte cada vez mais rápidos, eficazes e baratos. As distâncias culturais entre os indivíduos, que podem se tornar barreiras intransponíveis se não conseguirmos dar um primeiro passo rumo ao entendimento, mas que nos enriquecem tanto quando conseguimos perceber a riqueza da diferença, do novo, da beleza contida na diversidade. As distâncias emocionais, que trazem contentamento, alegrias, amor e até ódio, mas que às vezes exigem cobranças, que deixam tantos ressentimentos, tanta mágoa… Distâncias várias, de todo tipo, de todo tamanho, políticas, sociais, de fala, de gestos, de sentimentos.
Gosto de caminhar em calçadas tranquilas e arborizadas. Gosto de perceber o movimento da cidade, as pessoas com seus afazeres, a mocinha que lê um gibi detrás do balcão, o entregador de bicicleta que desliza suave no asfalto, o nervosismo do motorista carrancudo, a pressa do cara de terno, a conversa descomprometida das duas colegas de escola. É diferente percorrer um trecho de carro e a pé. O primeiro não nos permite observar os detalhes que o segundo nos propicia. A velocidade e a tensão do trânsito nos limitam, nos obscurecem para a sinuosidade das esquinas retangulares, tão contraditórias, das formas urbanas, com seus artificialismos e suas naturalidades. De qualquer forma, caminhar nos permite observar a história, acumulada nos telhados antigos, nas fachadas, nas pessoas e em todos os lugares. Acima de tudo, nos permite construir nossas próprias milhas.
Este texto foi extraído do livro: Crônicas Impertinentes, de Renato Muniz B. Carvalho.
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