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Reflexões de Um Viajante

Por Jessé Cardoso

 A Viagem

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O viajante ao viajar busca entender-se melhor a si mesmo e a olhar o mundo em outras perspectivas. O autoconhecimento é ainda uma das facetas do longo processo que e a viagem em si. Trata-se de uma fuga não declarada dos problemas familiares e cotidianos que azedam semanas e dias, e a fuga serve para isso, cada viajante parte em busca de uma aventura que possa viver em paz e tranquilidade durante alguns dias da sua vida. A busca por aventura ou experiências agradáveis deve também fazer parte do pacote, é uma parte importante de todo o processo, é um esforço para sair da rotina, e requer planejamento e outros detalhes como preparar malas. E parte rumo á rodoviária ou aeroporto, e os trâmites aí envolvidos.

A viagem em si já é uma ruptura com o local e costumeiro, com a rotina cotidiana que paralisa as pessoas, a viagem altera os ciclos da vida, em prol de novidades ou notícias advindas de conhecidos e parentes. Tais informações darão um colorido novo ao caleidoscópio ali criado para a devida situação. A cada viagem se aprende mais e rápido que o mundo sempre sofre mudanças boas e ruins, quanto a elas, se aceita as mudanças benéficas e rejeitam-se as ruins e se renova as esperanças por momentos anteriores desvanecidas por fracassos pessoais e descrenças numa sociedade desigual e trocam-se muitas experiências frenéticas entre os parentes como primos em primeiro lugar, tios em segundo lugar e aos avôs e bisavôs por último. Onde muitas vezes é melhor ouvir do que falar, o silêncio em algumas ocasiões e o símbolo total do respeito, mas tudo isso para garantir um aprendizado saudável e responsável.

No tocante aos conhecidos, a viajante conversa com eles na rua do bairro onde morou, em algumas ocasiões bem oportunas vai à casa de alguns para ter o passado no presente, de forma mais concreta, mas ele vê que ao seu redor aderiu um ritmo novo e acaba por resistir a longos diálogos muitas vezes profundos e reais, outras vezes vazios de sentido, vai à comunidade religiosa dos familiares e vê que as coisas não pararam de acelerar por mudanças estruturais e administrativas, lamenta consigo mesmo que as coisas nunca permanecem por um bom tempo. Ele participa de tudo calado e apenas observa as inúmeras nuances existentes nas grandes famílias brasileiras em épocas e datas festivas, como os seus familiares tanto se preocupam com as mesas de Natal e Ano Novo, a fartura de pratos diferentes e apetitosos que vão encher muitos estômagos, e a ausência de espaço para guardar e conservar tanto alimento por pouco tempo.

A preocupação de atender a todos que dele precisam no que preciso realmente for seja ajudando no embelezamento da casa, seja na limpeza do quintal ou na arrumação da casa para as festas, são atos que de fato assim norteiam o cotidiano do viajante por aqueles curtos dias, e consegue ir à casa de todos os parentes residentes na cidade, graças à paciência do avô muito bem motivado a rever também seus irmãos por muito não os via e não esteve presente com eles, apesar de morarem perto dele.

A essência dos eventos ou épocas especiais é alumiar sérias e novas reflexões acerca da fé, amizade e laços familiares que por hora são reacendidos pela chegada de outros parentes que mantém estritamente as tradições portuguesas, com muita bacalhoada e vários tipos de doces, para se adequar ao clima fluminense das festas, onde se ouve muitos causos e estórias que fazem parte do cotidiano deles e meu também, nota-se que procuram nessas ocasiões estar juntos com os vizinhos e conhecidos e melhorar as relações sociais e as trocas culturais.

Traçar os elementos que se abundam nessas ocasiões é algo rico e produtivo, as necessidades particulares assumem um papel secundário, e as coletivas ganham certo destaque e como prioridade, os membros dessas famílias devem se adequar a tais realidades advindas dessas situações, o silêncio deve assim permear alguns momentos.

Assim a viagem produz todas essas nuances de entendimento dialógico e social que integra as pessoas, e a viagem faz surgir boas lembranças de um presente bem próximo que a cada ano tende a se repetir com maior frequência e diligência, pois os círculos familiares devem ser fortalecidos ao longo do tempo que já rápido se passa, ora, nós os gajos devemos manter a família unida.

Mas como diz um velho amigo moçambicano “o tempo passa de gota á gota no relógio da água e nós assim vivemos”, essa e a dinâmica da existência e por sua vez a própria existência também assume o papel de uma viagem como início, meio e fim. O ciclo da existência exige paciência e presença de um bom jogador, e o viajante e o sujeito ideal para tal ação de jogar contra o tempo e a através do mesmo, viajar também é refletir sobre a vida, os erros e os acertos que assim fazemos ao longo da existência, caro leitor.

É preciso viajar, sair da onde está e mudar rotas da vida, buscar novas direções ao encontro numa melhoria contínua no estilo de vida, por alternativas ainda não testadas nos anos anteriores por alguma razão não explicada ou algum motivo não desejado.

É necessário navegar para aprender algo novo que mude as direções da vida, ainda que se custe caro como dizia o Velho do Restelo camoniano perspicaz e prudente sempre diz “Cuidado!”, é necessário deixar de ser provinciano ou bairrista ao longo do tempo.

E toda a Literatura teve sua épica origem em viagens e as personagens ilustres que a História Literária revela com as tabuletas de barro, os pergaminhos e os livros que nos alegram e nos animam a caminhar para frente e viajar na realidade e na imaginação.

Assim em verdade vos digo, não precisa ser Ulisses ou Abraão para termos longos viagens, nem a mesma sabedoria ou entendimento da existência que eles no seu tempo tiveram, é necessário ter a disposição para vencer as vicissitudes da vida que surgem a nossa frente. Tal disposição não surge nas brumas do tempo, nem da berma das estradas por onde caminhamos solitariamente em busca da realização de sonhos e objetivos, que projetamos para alcançar. E nesse tom festivo de nossa coluna inicial convido todos os leitores a saírem de suas rotinas e viajarem para algum lugar na imaginação. Até Breve caro leitor, a nossa próxima coluna.

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