Por Jahmaycon
Todo dia tudo sempre igual. A rotina sempre exaltada. Há os que vão dizer que a vida é perfeita quando tudo é sempre igual. Que qualquer homem, menino ou mulher gostaria de ser tão paparicado quanto o eu lírico da música de Chico Buarque. Será mesmo?
É certo que algumas pessoas hão de se agradar, de escolher essa vida e não querer mais nada, exceto a doce rotina de ser sacudido às 6 horas da manhã; ter na bandeja café, chocolate, biscoito, suco de mamãe e a vida de rei que sempre sonhou. É fato que muitas pessoas gostam disso, mesmo que seja somente em casa, mesmo que seja uma pessoa de renda modesta, cujo luxo seja apenas um pão com manteiga e um café quentinho, hão de gostar; porque o que gostam, na verdade, é de serem servidos.
Assim a vida segue num eterno ritual. Eu não tenho nada contra as rotinas ou rituais. Concordo quando a Raposa diz ao Pequeno Príncipe que os rituais são importantes. Mas uma das melhores coisas da rotina é poder quebrá-la. É nessas coisas, por essas pessoas que gostam de inovar que a sociedade evolui.
Pergunte a conservadores se eles gostam da vida deles como ela é. Obviamente vai dizer que gosta tanto que fazem de tudo para conservar esse estilo de vida. Seus atos comprovam que são militantes ferrenhos desse estilo. Luta diariamente para que nada mude. Mas pergunte a esses mesmos militantes da manutenção do status quo, se eles gostariam de viver na antiguidade, na idade média, no Brasil colonial ou imperial. Com certeza dirão que não.
O que essas pessoas que prezam tanto pela rotina, pelos rituais sempre iguais e são contra inovações, não entendem é que pessoas que ousaram inovar, que carregaram a carga dos ataques conservadores, ajudaram a construir esse estilo de vida e essas tradições que eles tanto lutam para manter.
É pesada a carga de ser diferente. Ser aquele que vai romper a barreira do conservadorismo e se colocar na linha de frente da mudança. Como a maioria de nós, embora queiramos melhorias, não conseguimos ser essa linha de frente, precisamos defender esses militantes para que a vida ande para a frente. Pois somente eles poderão fazer com que nossa vida não seja todo dia sempre igual: sem graça, sem emoção. Se não é possível ser linha de frente, sejamos retaguarda pelo menos.
ótima reflexão para o mundo de hoje.
Ótimo texto Jaymaycon, muito criativo sugiro que siga os mestres do Website Zenda, com Javier Marias e Arturo Pérez-Reverte com uma sincronia capaz de envolver todo leitor, em seu texto tem uma Melodia menos cladicante com os toques de José Donoso e companhia, esse diálogo com o Pequeno Príncipe é algo fenomenal.
Sem querer dialoga com Garcia Márquez em suas muitas lembranças, a luta pela Pó-Modernidade relembra Macondo e suas aspirações rumo ao Futuro como um Medalhão Antigo desgastado pelo tempo.
Delícia de crônica. Quanta provocação sábia nessa bandeja de café da manhã, chamada “Ao menos retaguarda”, de Jahmaycon.