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Por Fernanda Lopes
Ah, o tal do “Não Pode”… Essa frase que, de tão usada, tem até uma aura de poder. Como professora, eu me vejo, muitas vezes, cercada por ela, já me acostumei com esse mantra: “Não pode comer aqui. Não pode falar agora. Não pode usar o celular. Não pode ir ao banheiro. Não pode, não pode, não pode”. Claro, quando a gente começa a dar aula, vem cheia de boas intenções. O pensamento é sempre: “Serei a professora que vai explicar tudo com paciência, serei a amiga dos alunos e ensinarei com empatia.” Acontece que, em algum momento, isso esbarra no inevitável “Não Pode”. E quando isso se repete o suficiente, começa a soar como um pesadelo.
A grande questão, porém, é que o “não pode” não vem com um manual de instruções. Não vem com uma explicação. Não vem com uma razão sólida que faça os olhos dos alunos brilharem de compreensão. O que acontece então? O silêncio. O vazio. E, pior ainda, a dúvida. É que, quando se está diante de uma sala cheia de crianças ou adolescentes com a energia de um turbilhão, a tendência é querer transformar o “Não Pode” numa resposta definitiva, cheia de autoridade. Mas a realidade, meus caros, é que o “Não Pode” sem explicação é a receita para transformar uma simples sala de aula num campo minado. Nós acabamos alimentando uma revolta silenciosa nesses alunos e uma sensação de que a autoridade está ali para sufocar.
Eu, como educadora, entendo que a disciplina precisa existir. Claro, ninguém vai sair correndo pela sala, berrando, fazendo do momento de estudo uma bagunça generalizada. No entanto, deixar de lado o “Por que não?” e responder com apenas um simples “Não Pode” é um erro. Não só porque os alunos merecem mais que respostas secas, mas porque, ao fazer isso, a gente perde uma ótima oportunidade de realmente ensinar. É simples: a falta de diálogo transforma a nossa autoridade em autoritarismo. Quando não há explicação, quando o “Não Pode” não é acompanhado de um “Por que não?”, o aluno não entende o motivo da proibição e, muitas vezes, o que parece ser uma regra legítima se transforma em um capricho de quem está no comando.
O “Por que não?” é o reflexo de um mundo que já nos treinou a questionar. Não podemos mais simplesmente engolir respostas prontas. E, como professora, é esse o maior desafio: balancear o “não pode” com uma explicação minimamente plausível. Caso contrário, vira apenas um comando que ecoa vazio pela sala. E, ao fim, quem sai perdendo não é só o aluno. É você, que, entre um “não pode” e outro, acaba engolindo a própria autoridade, deixando o autoritarismo tomar conta do lugar que deveria ser de diálogo.
A verdade é que, sem a tal da explicação, qualquer “não pode” vira apenas um grito de poder. Um monólogo. O que já não é legal para uma sala de aula que, em teoria, deveria ser um ambiente de troca, de construção. Quando você só manda sem explicar, as crianças e os adolescentes acabam se sentindo mais como peões em um jogo onde as regras são inventadas no momento. Afinal, o que é uma sala de aula sem debate, sem questionamento saudável, sem – quem diria? – liberdade para pensar? Mas, claro, a gente vai lá e solta mais um “Não pode, porque eu estou mandando”, ou, na pior das hipóteses, um “Porque é assim”. E o que acontece? Aí o aluno, com o espírito do filósofo em formação, vira para o lado e, com aquele tom de quem não engole mais nenhuma resposta rasa, diz ironicamente: “Ah, tá, porque é assim.” E é nesse momento que a professora sente o impacto de seu próprio autoritarismo nas entrelinhas do “não pode”.
Tudo isso me faz refletir sobre como podemos fazer as coisas de maneira diferente. Não é que o “não pode” esteja errado — às vezes, não tem jeito mesmo. Mas, se você não explicar o “porquê” de uma regra, você não está só ensinando a obedecer, você está ensinando a ignorar. A solução? Talvez seja mais simples do que parece. Em vez de usar o “não pode” como uma carta de autoridade, que tal usar o “por que não pode”? Explicar, conversar, justificar. Mas e se eu, de vez em quando, não tiver a resposta pronta? Que tal dizer “Não sei agora, mas vou pensar sobre isso”? Isso, meus caros, vira uma conversa. E acreditem, é tão mais proveitoso conversar do que mandar calar a boca.
Fernanda Lopes, Jornal Choraminhices.
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