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A Glorificação do “Influencer” Moderno

Por Fernanda Lopes

Eu não sei você, mas eu já estou começando a achar que a humanidade se perdeu de vez. E eu falo isso com todo o respeito — ou talvez um pouco de ironia. Porque, entre um vídeo de 30 segundos e outro, tem surgido uma nova raça de seres supremos, que apareceram do nada e tomaram as rédeas da nossa adoração: os influenciadores digitais. Ah, sim, esse é o novo sacerdócio! E quem diria, né? Quem diria que ícones como o Albert Camus ou Albert Einstein seriam substituídos por alguém que faz dancinha no TikTok, apresenta unboxings e, em momentos de “sabedoria”, fala sobre como o óleo de coco mudou a sua vida.

É curioso, né? Se você olhar bem, o influenciador digital é praticamente um “deus pop”. Eles têm seus altares — desculpe, eu quis dizer feeds e stories. E, para o fiel que os segue, nada parece mais importante do que a sua opinião sobre o último modelo de celular ou sobre o creme milagroso para a pele que, no fim das contas, é só mais uma forma de vender qualquer coisa para alguém. Mas, vejam, nada é mais poderoso do que a influência de um bom storytelling. Porque, no fundo, esse povo não vende só produtos — vendem um estilo de vida, vendem uma visão de mundo. Uma verdadeira revelação! Às vezes, até me pergunto como conseguíamos viver, no passado, sem saber a opinião de fulano sobre o que deve ou não ser feito para viver bem. Como sobreviver sem as constantes mensagens de “se você quer mudar a sua vida, basta acreditar”?

Outro dia, estava eu, despretensiosamente, rolando o feed como quem folheia uma revista velha na sala de espera do dentista, quando me deparei com um post que dizia: “Acorde às 5h da manhã, tome água com limão, medite, trabalhe duro e o universo te dará tudo que você merece.” Um “influencer” com milhões de seguidores, posicionado estrategicamente ao lado de um pôr do sol perfeito (provavelmente pago por uma marca de camisetas com tecnologia antibacteriana), me prometia o paraíso… por um preço moderado, claro: sua obediência absoluta e, talvez, uma assinatura premium no canal.

Fiquei pensando: desde quando esses avatares digitais, de dentes brancos e sorrisos calculados, viraram nossos novos oráculos? Eles não sobem montanhas sagradas nem meditam em cavernas. Sobem hashtags e meditam sobre a melhor forma de vender uma escova de dentes elétrica. O que me fascina – e irrita ao mesmo tempo – é a capacidade desses seres de transformar qualquer ato cotidiano em epifania. Um café da manhã é um “ritual sagrado de autocuidado”; a faxina na casa, uma “limpeza energética”; e até a desgraça vira “aprendizado poderoso”. Se escorregam no banheiro e quebram o dedinho do pé, postam uma foto do gesso com a legenda: “A vida nos quebra para nos ensinar a sermos inteiros de novo.”

Mas olha, no fundo, eu entendo. A sedução é imensa. A promessa de que você pode ser tão legal quanto o seu influencer favorito, ou pelo menos ter a mesma aparência e o mesmo celular. E quem não quer fazer parte de uma multidão de fãs? A sensação de pertencimento é uma das mais envolventes que existem, não é mesmo? Porque ser humano é isso: ser parte de algo maior, até que esse “algo maior” se resuma a um tutorial sobre como tirar a selfie perfeita ou como fazer o café da manhã “de influenciador”.

Talvez o que mais me choca não seja o fato de todo esse fenômeno existir, mas o quão rápido ele conseguiu se espalhar, com uma aceitação quase unânime. Quem diria que, um dia, em pleno século XXI, ser um “influenciador” seria uma das profissões mais desejadas do mundo? Não seria mais interessante, sei lá, cultivar uma plantação de arroz ou estudar física quântica? Não. O que precisamos mesmo, acredite, é de um bom filtro de Instagram e uma boa dose de motivação. Ah, e claro, um contrato de patrocínio.

Não sou contra as pessoas se tornarem influencers, pelo contrário, em um mundo onde a ideia de fama mudou de um conceito mais complexo para algo que pode ser conquistado pelo simples fato de gravar sua vida e esperar a aprovação da audiência, é curioso observar como tudo se transformou. A questão, no entanto, é que, em algum momento, como sociedade, trocamos profundidade por superficialidade, questionamento por entretenimento. E quem se beneficia com isso? Bem, os influenciadores digitais, claro. Eles estão vendendo sonhos em embalagens bem feitas. E a gente compra.

É impressionante o quanto o papel dos influenciadores se expandiu, quase como um superpoder. Eles não dão mais apenas “dicas de moda” ou “como emagrecer em 7 dias”. Agora, eles querem nos ensinar a viver melhor, a sermos mais confiantes, mais felizes, mais… perfeitos. Porque, aparentemente, a perfeição agora vem com um código de hashtags e filtros. Um sorriso radiante de quem não tem um pingo de dor de cabeça ou uma segunda-feira complicada.

Os seguidores, coitados, os seguem como se estivessem em um culto. As lives, então, são como rituais de adoração, onde a iluminação, a câmera frontal e as técnicas de edição tornam qualquer ser humano comum em uma espécie de semideus, capaz de ensinar a todos como viver a vida que todos secretamente invejam. E o melhor de tudo: sem precisar de uma faculdade, doutorado ou qualquer tipo de esforço intelectual. A única coisa que importa é saber fazer aquela cara de quem entende de tudo, enquanto segura uma taça de vinho cara e um smoothie detox.

Mas o ápice da adoração vem quando esses influencers começam a se autoproclamar filósofos. Eles começam a dar conselhos sobre como lidar com as frustrações da vida, tudo isso enquanto posam para uma foto no meio de uma praia paradisíaca, com um corpo que ninguém sabe se é real ou se foi feito pelo Photoshop (talvez ambos). “Acredite nos seus sonhos”, eles dizem, “e se você fizer a escolha certa, pode ser que sua vida também seja igual à minha”, porque todos sabemos que é exatamente assim que a vida funciona, né? Baseada em um feed de Instagram bem editado e algumas palavras motivacionais jogadas ao vento.

Eu até me pergunto se eles vão mesmo ser lembrados como as divindades modernas ou se, daqui a algumas gerações, a humanidade vai olhar para trás e perguntar: “Por que diabos nós dávamos tanta atenção a isso?”. Eu já estou achando que vou me incluir nessa história de retrospectiva e rir, porque no fim, todo esse culto ao digital é a grande ironia da nossa época: construímos deuses para adorar, mas o único sacrifício que precisamos fazer é nos perder nas telas.

Em um mundo onde a verdadeira sabedoria parece escassa, esses novos deuses do digital nos guiam como verdadeiros oráculos da modernidade. Quem precisa de Aristóteles, Platão ou até mesmo Sócrates quando podemos ter “Dicas de 5 minutos para mudar a sua vida” ou “Como conquistar seu crush com apenas 3 passos”? A verdade, que ninguém quer admitir, é que essa glorificação moderna é um ciclo infinito de aparência e consumo. Não seguimos o influencer, seguimos a promessa que ele representa: de que a felicidade pode ser comprada em dez parcelas sem juros. E se não funcionar, a culpa não é do método; é nossa, que não acordamos às 5h para beber água com limão. No fim, influenciadores podem até mudar vidas – mas só as deles.

Fernanda Lopes, Jornal Choraminhices.

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