Por Mikaelly Alves
Capítulo 1- O grito
Minha vida sempre foi estranha. Eu sempre “aterrorizei” meus primos com histórias assustadoras. Meus pais nunca me deram esporros, porque eles morreram em um acidente de carro quando eu era criança. Então minha guarda ficou com minha vó, mas ela era muito fraca e eu sempre ficava fazendo gracinhas. Portanto, minha guarda ficou com meu tio. Fui morar com ele, onde os moradores do local falavam sobre a Floresta amaldiçoada. Um dia eu presenciei isso. Eu deveria ter ficado longe de qualquer coisa que vinha da floresta. Porém, apesar de tudo, eu queria respostas, mas isso me rendeu algo valioso que eu nunca conseguiria recuperar…
Certa noite, enquanto a lua iluminava o céu, eu ouvi um grito na floresta. Eu estava no meu quarto, estudando para a prova, e fiquei alerta quando meu cachorro entrou correndo no meu quarto. Eu olhei pela janela do cômodo para ver se eu visse algo, mas não tinha nada, só o escuro da floresta, nenhum movimento anormal, só o das árvores.
Eu acalmei o Tommy, meu cachorro, e ignorei o som que vinha da floresta, pois meu tio sempre me alertava que se eu ouvisse algum som vindo da mata era pra deixá-lo de lado e fingir que não ouviu nada.
Porém, quando eu ia voltar a estudar, os gritos começaram a se intensificar e eu começava a ficar preocupada, pois o barulho era diferente dos outros. Os barulhos que eu sempre ouvia, eram barulhos de animais ou de automóveis.
A voz da pessoa que estava gritando, não era desconhecida para mim. Eu levantei da minha cadeira e olhei mais uma vez para a janela, antes de sair do meu quarto. Eu não acreditava no que eu ia fazer, mas no fundo eu sempre quis saber a verdade, mesmo meu tio falando pra eu ficar longe de qualquer tipo de barulho que a floresta fazia.
Minhas mãos começaram a suar, quando eu entrei no quarto do meu tio. Tom me seguia com seus olhos vendo o que eu ia fazer.
Meu tio não estava em casa no momento, ele me avisou por telefone que iria passar uma semana fora, trabalhando.
Eu peguei uma lanterna de sua gaveta e sai do seu quarto. Os gritos lá fora não paravam e o Tom me olhou de relance. Eu desci pela escada e fui para a porta de entrada. Antes de eu abrir a porta, Tom desceu correndo e fechou a porta com tudo.
– O que você está fazendo, Tom? – Perguntei, fazendo carinho na sua cabeça, enquanto ele latia para mim.
A tal coisa voltou a gritar, mas, agora, o barulho não vinha de longe e sim da frente da casa. Não ouvi o latido do meu cachorro e abri a porta com tudo.
No primeiro momento, eu não vi nada. Comecei a andar pelo sítio em que eu morava. Eu não vi nem ouvi nada. Fui dar a volta pela propriedade, até chegar atrás da casa. O sítio não era muito grande, mas tinha uma vista ótima para a floresta, então foi fácil me deslocar.
À medida que eu caminhava para dentro da floresta, o grito começava a ficar mais agudo, e comecei a sentir um frio na minha barriga. Tom estava me puxando pelo moletom, me “avisando” para eu voltar.
– Pare, Tom! Eu sei o que meu tio disse para mim, mas talvez tenha alguém precisando de ajuda. Você não precisa me seguir, pode voltar para a casa se quiser. – O alertei e continuei meu caminho.
Algo me atraía para o fundo da floresta, como se as árvores me convidasse a ouvir seus segredos. Quanto mais me aproximava, mais os barulhos se intensificaram, até que eu vi uma luz. Meu coração ficou acelerado e minhas mãos começaram a suar, enquanto eu mais me aproximava. Até que eu vi que possuía outro caminho, onde levava aquela luz. Como eu não tinha nada a temer, eu mudei a rota que eu segui do barulho e comecei a seguir o caminho daquela luz. Quanto mais me aproximava, mais eu sentia uma presença atrás de mim, mas quando eu iluminava o local, pensando onde a tal pessoa poderia estar, não mostrava ninguém ou algo. Eu fiquei muito preocupada em encontrar este tal algo, que acabei me perdendo.
De repente, eu ouvi um barulho atrás de mim, de um galho quebrando. Meu coração se disparou. Sem pensar duas vezes, eu comecei a correr. Sem querer deixei a lanterna cair no chão. Mas não tive tempo pra me preocupar com isso e continuei a correr.
Meu sapato desamarrou e caí no chão. A criatura começou a se aproximar de mim. Ela me pegou pelo ombro e me virou em sua direção. Foi aí que eu vi, um homem, com uma cicatriz no rosto. Seus olhos estavam vermelhos, como se ele estivesse com raiva. Sua sobrancelha estava franzida, enquanto ele olhava para o lado. Ele apertava meu ombro com força, enquanto eu me debatia contra ele. Antes que eu pudesse gritar por ajuda, ele colocou a mão na minha boca, me impedindo.
O que você pensa que está fazendo aqui, na floresta, nesse horário?! – Ele diz, me ajudando a me levantar.
Sua mão ainda estava na minha boca e sem pensar duas vezes, eu a mordi. Nem prestei atenção no que ele resmungava e comecei a correr. Eu comecei a ouvir algum barulho de água e lembrei do rio que tinha perto por aqui. Porém eu comecei a escutar o barulho novamente do grito, mas antes que eu pudesse chamar por ajuda, eu senti uma mão na minha cintura. Era o mesmo homem. Ele me prendeu em uma árvore e colocou uma de suas mãos novamente na minha boca. Sua respiração estava descontrolada igual a minha. Ele olhava para a direção do grito, tentando enxergar algo. Foi quando ele me olhou com aqueles olhos. Eu o olhei e tentei achar algum vestígio de anormal. Mas seus olhos me penetraram e fazia eu sentir coisas que eu não conseguia entender. Tentei me debater novamente, mas a sua voz rouca me fez parar.
– Shiu! Eles já sabem que você está aqui, faça silêncio e me siga. – Ele falou, removendo sua mão de minha boca. – Você tem que confiar em mim, Miranda.
Antes que eu pudesse perguntar como ele sabia meu nome, ele me puxou pelo braço e começou a correr comigo. Nós dois começamos a correr na direção do barulho do rio. O barulho do grito começou a ficar distante, enquanto o barulho do rio ficou mais próximo. Mas eu ouvi um sussurro me chamando. Meu corpo gelou e eu parei de correr. O homem misterioso tentou me puxar pelo braço, mas a única coisa que eu prestava atenção eram os sussurros falando meu nome. Algo naquela voz, me fazia ficar paralisada.
Quando eu estava pronta para virar minha cabeça, eu vi Tom pulando na direção do homem. Meu cachorro não hesitou em pular nele. Ele começou a latir. Eu tentei falar pra ele parar, porém, antes que eu pudesse fazer algo, um vulto passou do meu lado. O homem com a cicatriz na cara, tirou Tom de cima de si. Ele pegou algo em sua roupa e jogou no ‘Fantasma’. A aparência do fantasma parecia de uma jovem loira. Porém antes que eu pudesse reparar na aparência da criatura, Tom tentou pular nela. A única coisa que eu vi, foi meu cachorro latindo de dor, enquanto era levantado por aquele ser. O homem jogou novamente algo nela e percebi que era um tipo de pó. Ela saiu correndo e gritando pelo escuro da floresta.
Meu corpo voltou ao normal. Eu corri na direção do meu cachorro e percebi que ele estava fraco.
– Po…por que você me…me seguiu? Eu fa…falei pra você voltar pra casa.
Lágrimas saíam dos meus olhos e caí sobre o seu pelo macio.
– Eu não posso te perder, Tom. Você é meu companheiro.
Eu coloquei minha mão em sua barriga e percebi que ele não respirava mais. Eu comecei a soluçar muito, meu coração começou a se apertar. Meu corpo caiu pra trás e eu senti dois braços me puxando. O homem me abraçava tentando me acalmar.
– Você tem que ir. Ela vai voltar e pode fazer coisa pior contigo. – Ele diz passando a mão no meu cabelo tentando me acalmar. – Não se preocupe comigo, eu sei lidar com isso. Você vai ter que pular no rio.
Nos levantamos, e eu ainda permanecia nos braços dele. O grito voltou. Ele me abraçou mais uma vez e, pela última vez, disse “A coisa que ela mais odeia, é amora”. Tentei perguntá-lo o que isso significa, porém ele me empurrou para a direção do rio. Olhei nos seus olhos e neles passavam sentimentos de confiança. Dei uma última olhada no meu cachorro e saí correndo em direção ao rio.
A criatura estava chegando perto de mim e comecei acelerar a minha corrida. Eu nunca fui de fazer uma corridinha de manhã e nessa hora eu me arrependo, porque eu cansei muito rápido. Eu avistei o rio e vi que no final dele não tinha nada. Pensei que talvez fosse uma cachoeira e me alertei, pois eu iria precisar de fôlego.
Cheguei perto da beirada e sem pensar duas vezes, pulei. A água estava congelando. A correnteza me puxava muito forte e eu não conseguia ver a margem. Eu comecei a ficar sem força e minha visão começou a ficar embaçada. Eu entrei em pânico, mas eu vi a silhueta de uma árvore e nadei até ela. Consegui alcançá-la e subir. Me segurei o máximo nela, fechei os meus olhos e adormeci.
Capítulo 2 – As crianças perdidas
Senti uma movimentação do meu lado ao acordar. O sol estava queimando a minha pele e comecei a ficar desconfortável. Mas não queria abrir os olhos, até saber o que era aquela movimentação.
Risadas de crianças chegaram aos meus ouvidos. Elas estavam sussurrando algo que eu não conseguia ouvir. Talvez, eu ainda esteja dormindo ou a criatura me pegou. Estava pronta para me levantar quando ouvi a voz de uma garota.
– Dickon, se afaste dessa garota! Não sabemos o que houve com ela. – A menina gritou para alguém e senti uma pessoa do meu lado pulando.
– O sangramento dela piorou. – O rapaz do meu lado, que eu acho que é o tal de Dickon, exclamou. Pera, sangramento? Quando que eu me machuquei?
Senti uma dor na minha testa depois desse pensamento. Abri meus olhos calmamente. Minha visão ficou turva, mas me mantive deitada. De repente, um garoto aparece no meu campo de visão.
– Gente, correm aqui. A garota acordou! Ela ‘ta viva! – O garoto berrou.
Dois pares novos de olhos apareceram na minha frente.
– Olá! Você consegue se levantar?
O tal de Dickon coloca a mão nas minhas costas e o outro rapaz também, tentando me levantar. Me sentei e olhei para as três pessoas na minha frente. Elas pareciam novas demais, então deduzi que eram crianças. A garota nova, era uma menina gorda com os cabelos claros. O menino que estava do seu lado, tinha um colete nas costas? Percebi que fiquei encarando muito ele, que ele ficou desconfortável. Fiquei sem graça e olhei para o outro menino, Dickon. Seu cabelo ruivo era muito ruivo que me lembrava muito minha amiga Sadie.
– Será que ela é muda? – O menino com o colete se manifestou depois do silêncio.
– Na… não.
– Eu o respondi, mas saiu como um gaguejo. Pera, eu realmente gaguejei na frente dessas crianças? Abaixei a cabeça envergonhada. Porém vi os olhos dos três se arregalaram.
– O que aconteceu comigo? Onde é que eu tô? – Perguntei, olhando nos olhos de cada um.
– Você estava desacordada em cima de uma árvore no rio. O Dickon – Ela aponta pro menino do meu lado. – Tirou você de lá e te trouxe pra superfície. E, também nós não sabemos onde estamos. Nos perdemos. Porém, estamos em Misselthwaite. – Ela conclui.
Misselthwaite? Onde é que era isso? Eu estou muito longe de casa? O rio me levou para tão longe assim? Será que aquele homem está bem? Fiquei tão imersa nos meus pensamentos que minha cabeça começou a doer.
– Merda! – Falei, colocando a mão em minha testa onde estava sangrando.
– Não se mexa. Vamos colocar um pano em sua cabeça. – O menino que até agora eu não sabia o nome, disse. Ele pegou algum tipo de pano, e foi aí que percebi que eles tinham materiais de jardinagem. – Pressione isso bem forte na sua cabeça.
Fiz o que ele me pediu e comecei a me levantar. Os três pares de olhos me seguiram que eu comecei a ficar desconfortável. Eles falaram que se perderam, mas eles possuem esses objetos. Talvez, eles não se perderam tão longe e eu possa procurar meu tio.
– Meu nome é Miranda. Moro em Bath, no Reino Unido, quer dizer, morava, não sei. – Exclamei depois de um tempo. – Eu preciso de ajuda para procurar meu tio. Aconteceu algo horrível comigo, na noite passada. – Terminei de falar e vi as três crianças se levantar.
– Podemos levar você para a casa do meu tio e ajudá-la. Meu nome é Mary, muito prazer. – A garota, Mary, diz suspirando.
– Sou o Colin. – Fala o menino com o negócio das costas.
– Acho que você deve saber o meu, mas sou o Dickon. – Ele começa andar rápido e pega os materiais na mão.
– Muito obrigada! Vocês estão me ajudando muito nessa. – Eu digo e começo a andar junto com eles.
– Não precisa se preocupar. Mas o que aconteceu com você na noite passada? Você sofreu algum tipo de ataque? – Colin me pergunta, e me olha curioso.
Não sei se eu deveria respondê-los, porque eles poderiam me chamar de louca. Eles ficaram me olhando com expectativa, então eu tive que contar a verdade.
– Eu ouvi uma pessoa gritando na floresta do sítio em que moro.
Sim… as imagens voltavam à minha mente. O meu cachorro… Meus olhos lacrimejaram.
– Ei, está tudo bem. Não precisa falar se não quiser. – Mary me abraçou de lado, limpando as minhas lágrimas que já estavam vindo à tona.
Me acalmei e continuei a falar sobre o ocorrido.
– Uma pessoa estava me seguindo. Ela fez algo com meu cachorro e ele morreu. A última coisa que eu lembro, é que ela era loira. Eu também ouvi uma voz falando que ela não gosta…
Não completei a última frase, pois eu teria que explicar quem falou isso. Eu não queria falar sobre o homem que salvou a minha vida.
Eles se entreolharam e me abraçaram. Fiquei chocada no primeiro momento, mas eu retribuí o abraço. Nós fomos nos afastando um do outro e começamos a nos olhar. Os dois rapazes se entreolharam e começaram a rir. Mary e eu não entendemos o motivo do riso, mas nos juntamos à risada.
Dickon foi o primeiro a se manifestar.
– Isso foi estranho. Bora continuar a caminhada?
Seguimos entrando para a floresta e percebi que o tipo de árvore daqui era diferente do que as que eu era familiarizada. Mais uma dúvida surgiu em minha mente. Como eles se perderam nessa floresta?
– Então, o que vocês três estavam fazendo na floresta e como se perderam? – Digo calmamente os olhando.
Eles param de andar e hesitam em responder. Mas foi o Colin que respondeu e continuou a andar normalmente.
– Nós estávamos colhendo algumas mudas para o meu jardineiro. E acabamos nos perdendo. Simples assim.
– Simples assim? – Eu sussurrei.
Tinha algo de errado com essa história.
– Você não pulou alguma parte? – Perguntei o olhando.
– Bom… Em partes… – Quem se manifestou agora foi Mary. – Meio que nós fugimos.
– Vocês o quê?! – Eu gritei e parei de andar. – Como assim?
Eles pararam de andar. Colin começou a coçar as suas costas. Mary olhava para o chão pensativa. E Dickon olhava para as árvores.
– Então? – Eu os olhava fixamente tentando achar alguma resposta.
– A senhora que trabalha na casa do pai de Colin, não deixou os dois ali – Ele aponta para os outros dois. – saírem para uma feira que está acontecendo no centro da cidade. – Mary ia completar algo, mas Dickon não continuou. – Então eles decidiram sair sem avisá-la, mas o jardineiro, o Ben, descobriu e falou para ela. Mas antes que ela os impedisse, os dois fugiram para a floresta. Onde me encontraram. Eu estava levando alguns materiais para uma pessoa. Os dois chegaram correndo e falaram para mim que alguém os estava seguindo. – Dickon termina de explicar e percebi que a última fala, saiu com um tom de raiva.
Eu olhei para Colin e Mary para ver se a história era mentira. Mas eles não conseguiam me olhar e deduzi que era verdade.
– Mas o que tem de tão bom nessa feira, pra vocês dois irem contra a opinião daquela mulher? – Perguntei. – Pera, vocês moram juntos? Vocês são irmãos ou primos? – O olhei e tentei achar alguma característica, mas não achei nada.
– Olha, na verdade o errado na história é a senhora Medlock. Nós falamos para ela desde a semana passada que queríamos ver a feira de antecedentes. E nós somos primos. – Colin responde.
– Por que ela estaria errada? – Dickon pergunta o olhando fixamente.
– Você sabe! Ela acha que eu e o Colin não sabemos lidar com as coisas. Ela pensa que eu largaria o Colin com alguma empregada e o deixasse sozinho. – Mary explica depois de ficar um tempo calada.
– E ela pode ter razão! Você é muito curiosa e fica se perdendo. Olha onde estamos agora! – Dickon grita para Mary, que ficou assustada.
Mary iria responder, mas a interrompi, porque isso poderia gerar uma briga.
– Ei! Parem os dois! – Os três me olharam assustados. – A Mary e o Colin podem estarem errados, mas isso não te dá o direito de jogar isso na cara deles.
Tentei melhorar a situação, mas a cara que os dois citados olharam para mim dizia que não.
– Mary, quando algum adulto fala pra você fazer algo, você deve obedecer, porque ela pode ter falado isso para o seu bem! – Falei a última frase lembrando do meu tio. Eu deveria tê-lo escutado.
– Pode ser que vocês não gostem, mas talvez no futuro prove ao contrário. – Continuei. – Vamos continuar a caminhada, porque seus familiares podem estar preocupados. – Não deixei nenhum deles me responderem e passei na frente dos três, continuando a andar.
Capítulo 3 – O trem
O caminho todo ficou em silêncio. Eles me seguiam sem hesitar. Eu andava pelo sul, pois tive um pensamento que talvez ache uma estrada. E eu estava certa.
– Olhem! Uma estrada. – Eu os alertei.
Os três começaram a correr e eu os seguia. Os carros passavam em alta velocidade pela estrada. No final da estrada dava pra ver uma cidade. Eles seguiam o caminho ao contrário.
– Ei! A cidade está pra lá. – Apontei para o local
– Os dois moram no morro. – Dickon me explicou.
Os segui e vi uma casa grandona. Chegamos perto do portão e vi uma mulher correndo na direção dos 3. Eu me afastei um pouco para dá-los privacidade. Mas ouvi algumas frases de repreensão. Acho que era a tal senhora. Ela me olhou e me chamou pelo dedo. As crianças saíram correndo para dentro da casa.
– Elas me contaram que você estava desacordada na floresta e os ajudou a achar o caminho da casa. Muito obrigada! Apesar deles serem uns pestinhas, eu fiquei preocupada. Entre na casa e ajudaremos você a achar sua casa.
Concordei com a cabeça e a segui. A casa era muito grande e muito silenciosa. Ela me levou para um quarto e mandou eu me trocar
Eu jantei com os três e descobri algumas coisas sobre eles. Dickon tinha uma irmã que trabalhava na casa. O pai de Colin estava viajando, mas ele já sabia do ocorrido. Mas o que eu mais achei interessante, era um tal de jardim secreto que as crianças me falavam.
Eu liguei para o meu tio, pelo telefone da casa de Colin, e contei alguns detalhes para ele do que houve. Meu tio ficou furioso, pois eu o tinha desobedecido. Ele me passou o endereço de onde ele estava e mandou eu ir pra lá.
Anotei o endereço em um papel que estava em cima do armário e saí da sala. Voltei para a sala de jantar, onde estavam os dois primos e a governanta, pois Dickon foi para a sua casa com sua irmã.
A senhora Medlock foi a primeira a notar a minha presença.
– Deu tudo certo, senhorita? Conseguiu falar com seu tio? – Ela andava na minha direção.
– Sim! Ele me passou o endereço de onde ele está, mas não sei onde é esse lugar. – Mostrei pra ela o papel.
Ó, sim! Eu sei onde é. Você vai pegar um trem!
Trem? – Perguntei sussurrando – Mas eu não tenho dinheiro. – Passei a mão na minha cabeça, pensando.
– Não se preocupe com isso! O senhor Craven, mandou eu te entregar esse dinheiro, como agradecimento por “trazê-los” de volta. – Aponta para as únicas crianças da sala. Eles estavam pra baixo, como se estivessem envergonhadas ou com sono.
Quanta gentileza! Eu ia falar que não precisava, mas eu realmente precisava.
– Agradeça o senhor Craven para mim.
Ela concorda com a cabeça.
– Bom… – ela diz, se levantando da cadeira. – Está tarde e precisamos dormir. Vocês – Ela aponta para Colin e Mary – pra cama agora e nada de ficar andando pelo corredor.
Os dois nem concordam com a cabeça.
– Com licença, vou me retirar agora. Preciso resolver algo antes de eu ir dormir – completou ela.
A sala fica um silêncio desconfortável. Ninguém sabia o que dizer um ao outro.
Bom… – Colin me olha. – espero que dê tudo certo com você. Se quiser pode nos visitar ou vice-versa. Se você quiser, é claro. – Ele dá um sorriso de lado e se levanta.
É claro! Eu gostei de vocês. – Olhei para os dois e vi que Mary estava contente com isso – e me desculpem pela minha fala lá na floresta. Eu nem conheço vocês direito e não tinha direito de ter falado aquilo. – Suspiro e olho para baixo.
– Sem problemas. Talvez você e Dickon tenham razão, mas só um pouco! – Mary diz e depois começa a rir.
Nos falamos mais um pouco e depois cada um foi para seu quarto. Eu senti que algo de bom nessa viagem ia acontecer. Espero que dessa vez, eu esteja certa.
Capítulo 4 – O Aviador
Acordei sentindo um cheiro de bolo de cenoura. O cheiro estava tão bom que eu pensei que ainda estava sonhando. Aquele cheiro me fez lembrar da minha vó. Apesar de meus primos não gostarem que eu falasse sobre histórias de terror, minha vó sempre me ouvia. Ela fazia um bolo e nós duas sentávamos no sofá e eu começava a cantar. Mesmo ela ficando com medo, ela não mandava eu parar de contar. Ela era a única, tirando meus amigos, que me ouvia.
Fiquei vagando pelas minhas lembranças que nem percebi que tinha entrado duas pessoas no quarto.
– Miranda! – Pulei da cama, quando Mary gritou meu nome.
Oh meu deus! Quanto tempo vocês estão aí? – Perguntei me levantando.
– Alguns minutos. – Colin se pronunciou. – Parece que você estava viajando igual na floresta.
– Me distraí com esse cheiro maravilhoso. E bom dia! – Comecei a me locomover para o banheiro.
– Martha preparou um belo café da manhã pra senhora! Nós decidimos chamá-la, pois a senhorita estava dormindo muito. – Mary falou.
– Valeu. Eu não costumo dormir muito, mas essa cama é muito macia. – Apontei para o objeto e deitei nele – Podem ir, daqui a pouco eu desço.
Vi os dois se retirarem do quarto e fui ao banheiro fazer minhas necessidades.
Eu ganhei dois pares de roupas novas da Senhora Medlock. Minhas roupas estragaram quando eu caí no rio. A roupa que eu coloquei era uma calça leg verde e uma blusa azul. Ela também me deu um moletom rosa de crochê, uma blusa amarela e uma calça jeans. Não é totalmente meu estilo, mas eu não tinha o que reclamar.
Arrumei a bagunça do quarto e saí. Desci as escadas e quanto mais me aproximava da cozinha, mais risadas eu ouvia.
– Bom dia! – Olhei para todas as pessoas presentes na sala e percebi que Dickon estava também.
– Bom dia, Miranda! Percebo que as roupas ficaram muito boas na senhora. – MedLock me olha de cima a baixo e dá um sorriso.
– Sim! Apesar de ficar um pouco solta. – Sentei em uma cadeira vaga do lado de Colin.
– Ah, sim! Aqui está o dinheiro que o senhor Craven lhe deu. – Ela me entregou um pacote onde tinha 20 euros. – Espero que dê pra comprar a sua passagem.
– Eita! Eu acho que vai dar sim. Muito obrigada. Vocês estão me ajudando muito! – Sorri olhando para as três crianças.
Eles voltaram a falar sobre um evento de floricultura que está rolando perto daqui.
As opções de café da manhã eram muitas, então peguei um pouco de cada. A senhora MedLock teve que se retirar para resolver alguns assuntos. Ela me desejou uma boa viagem e que dê tudo certo na minha vida.
Os três mudaram de assunto e agora eles falavam um assunto que eu gostava. História sobre aventuras. Eu ia falar algumas histórias sobre eles, mas percebi que eles não poderiam ter uma visão positiva sobre isso, então deixei de lado.
Estava perto da hora do almoço e percebi que eu tinha que ir. Mary e Colin estavam tentando me convencer a visitar algumas partes da casa, mas eu não tinha tempo. Eu tinha que encontrar com meu tio logo.
Chegamos na estação de trem e percebi que estava cheia. Várias pessoas passavam com suas malas. Alguns vendiam algumas coisas, como comida, entre outros.
Martha foi comprar a minha passagem. Ela, o Dickon, Colin e Mary decidiram me acompanhar.
– Eu acho que é isso… – Falei olhando para os trilhos.
– Até que foi legal fazer uma amiga. – Mary dá um dos seus sorrisos para mim.
– Ainda acho que você não é real. – Olhei confusa para Dickon, depois dele falar isso – você se machucou e ainda sobreviveu daquele rio.
Ele aponta pro machucado da minha testa e começa a rir.
– É… Talvez foi um milagre.
Olhei para os trilhos novamente, enquanto os três conversavam entre si. Foi quando um homem com uma mala passou correndo na minha frente e acabou caindo. Seus desenhos e alguns cartazes com um menino, acabaram voando para todo lado.
– Meu Deus! O senhor está bem? – Agachei na sua frente recolhendo alguns desenhos e cartazes do chão. Mary atrás de mim, também fez isso.
– Sim! Sou um pouco desastrado, tenho que comprar uma passagem senão perco o trem. – Ele levanta do chão.
O cartaz que eu peguei na mão, era um cartaz de desaparecimento. O menino que estava na foto, era loiro e parecia uma criança.
Os três atrás de mim se aproximaram do homem. Ele estava arrumando sua bagagem.
– Quem é este? – Perguntou Dickon apontando para a folha.
O homem estranho, deu o cartaz para Colin e Dickon.
– Ele é… Meu amigo… – Ele diz suspirando baixo – Ele desapareceu nas montanhas.
Três pares de olhos me olharam e eu os olhei de volta. Será que é uma coincidência?
– Na montanha? Que montanha?
– A montanha perto do vilarejo Sheikpers. Houve um ciclone por lá. As autoridades disseram que talvez… – Ele olha pra longe – eu não quero pensar sobre isso… – Ele nos olha – Se vocês acharem ele, por favor ligue para este número.
Antes que pudéssemos responder, ele volta a correr para a cabine onde vende as passagens.
– Eita! Será que este rapaz tem ligação com a Miranda? – pergunta Colin.
– Não sei! – Mary dá de ombros – Tomara que ele encontre seu amigo. Mas olhem – Ela aponta para um papel novo – Ele deixou cair um dos seus desenhos.
Ela nos mostra com a testa franzida.
– O que é isso? – Perguntou Dickon.
– Eu acho que é um chapéu! – Comentei.
– Não, isso parece uma montanha. Olha aqui. – Colin aponta para as curvas do desenho.
– Montanha, Colin? Olha a curvatura disso! – Mary zomba da cara dele.
– Ei! – Olhamos para Martha. Ela estava com meu bilhete na mão. – Comprei a sua passagem e também uma cesta de almoço para você. A viagem vai durar em média 3 horas e você pode sentir fome.
Ela me deu a cesta e percebi que era pesada.
– Obrigada, Martha! – Coloquei a cesta no chão e abracei ela. – Não deve ser melhor que a sua, mas já é algo.
Ela ri no meu ouvido e me abraça de volta.
– Assim eu fico sem graça. – Ela fala, enquanto caricia meu cabelo.
– Afastei dela e vi que o trem estava chegando. Olhei para os menores daqui e os abracei também.
– Quando tudo melhorar, eu venho visitar vocês. – Sussurrei em seus ouvidos.
– Você sabe onde moramos e o nosso número. – Colin fala.
Nos separamos e olhei para eles. Estavam cabisbaixo.
– Eu volto, Não se preocupem – Ri, mas minha risada saiu mais nervosa do que engraçada.
Começamos a andar para perto do trem. Cinco auxiliares saíram do trem. Meu vagão era o número 9 3⁄4. Fiquei confusa e pedi ajuda para um dos auxiliares. Ele me avisou que ficava quase no final do trem. Dei um tchau com a mão para os quatro da minha frente e entrei no trem. O trem deu um último apito e começou a fechar a porta. Do lado de fora, os 2 primos e os 2 irmãos começaram a balançar o braço, como uma despedida. O trem começou a andar devagar. Eu fiquei parada enquanto eu perdia eles da minha visão. Senti um sentimento de tristeza. Eu sabia que eu ia ver eles novamente, mas por que eu estava agoniada?
Comecei a andar pelo trem para achar meu assento. Quando eu vi o número 9 em uma daquelas plaquinhas no teto, comecei a ficar animada. Queria só sentar no meu lugar e tirar um cochilo. Porém, antes que eu passasse pela porta, um barulho de algo caindo atrás de mim, chamou minha atenção. Uma mulher derrubou uma caixa de lata. Uma pessoa veio ajudá-la. Não dei muita bola e continuei a andar. Peguei na maçaneta que me levaria pro outro lado do trem e girei ela. Mas quando eu me virei pra fechar a porta, algo de estranho aconteceu. A mesma mulher estava me olhando, com um olhar de felicidade. De felicidade? Franzi a testa com seu olhar. Ela estava tão focada em mim que ignorou o homem ao seu lado. Pensei que talvez eu a tenha lembrado de alguém. Mas eu sentia que conhecia ela de algum lugar, mas não sei de onde.
Deixei de lado e fechei a porta. Vi o número do meu assento e comecei a me aproximar. Coloquei a cesta de almoço em cima da mesa que tinha e uma bolsa de lado, onde estava a muda de roupa que ganhei. Relaxei no meu assento e me inclinei de lado para olhar para a janela. O trem passou por cima do rio. O rio era extenso. Minha vida passou pelos meus olhos. Se não fosse por aquele tronco…
Na minha casa não possuía uma linha de trem, só na cidade vizinha, mas demorava meia hora pra chegar até ela. Soltei um suspiro quando percebi que estava muito longe de casa. A viagem ia ser longa. Espero que meu tio explique o que houve (o que eu acho que é improvável). Mas será que se eu falar sobre aquele homem, ele me dará as respostas?
Vi uma movimentação do meu lado, era outro passageiro. Joguei minha cabeça para trás e vi de lado que era o homem dos desenhos. Pude vê-lo melhor. Ele parecia muito velho para ele ser amigo daquela criança. Se é uma criança. Ele tinha duas mochilas consigo. Uma delas era um mochilão. Nas costas da mochila tinha um avião e alguns globos terrestres. Eu acho que ele era um professor. Pera, professor? A minha prova! Meu Deus! Fiquei tão preocupada em avisar meu tio que eu esqueci totalmente de avisar meus amigos.
– Merda. – Digo batendo na minha testa. Eles devem estar preocupados. Porém não tinha nada que pudesse ser feito. Quando eu chegasse na estação, acharia um orelhão e ligaria pra um deles.
– Ei, você! – O homem que eu estava olhando me chama. – Você não era aquela menina lá fora? – Confirmei com a cabeça – Está tudo bem?
– Sim. Não se preocupe. – Falo – Mas e você? Para onde está indo? – Perguntei para ele.
– Não estou muito bem. Meu amigo, como você sabe, ele desapareceu. – Ele fala – Ele disse que tinha que voltar para o seu planeta. Mas ele foi resolver um assunto e não voltou mais.
– Planeta? – Fiquei confusa e arrumei minha postura
– É. Pode ser doideira, mas sim. – Ele diz risonho. – Mas, então, qual seu nome?
– Miranda. E o seu e do menino desaparecido?
– Pedro Pascal e o menino se chama Pequeno Príncipe – Pedro me olha de relance – Sim, ele é um príncipe, mas não como esses príncipes famosos.
– Nossa que legal. Porém como você vai achá-lo? Você tem alguma pista?
– O pequeno disse que um homem tinha dito que as respostas estavam na floresta. – Pascal diz pensativo – Pelo menos eu sei onde ele mora. Eu espero que ele não tenha fugido. E você, está indo para onde?
– Eu estou indo ver meu tio. – Minha barriga começa a roncar. – Vixi – Dou uma risada envergonhada.
– Não se preocupe. – Bom, eu vou no banheiro. Com licença. – Pedro se levanta e se retira do vagão.
Abri a cesta e peguei uma marmita. Nela tinha macarrão com frango e um pudim de sobremesa.
O senhor Pascal retornou com um prato de comida. Ele me deu um sorriso e sentou no seu assento. Terminamos de comer e eu disse que ia tirar um cochilo. Abaixei o banco e fiz uma cama. Tentei dormir, mas eu senti um olhar sobre mim. Eu abria meus olhos, mas não tinha ninguém me olhando. Talvez eu esteja só louca. Adormeci com esse olhar.
Duas horas depois, senti duas mãos em meu ombro balançando. Era Pedro.
– Hey, chegamos, levanta aí. – Comecei a me despertar. – Boa tarde! O trem já chegou no destino!
Comecei a me levantar. O senhor Pascal se afastou de mim. Olhei pela janela e a visão que eu tive era só de prédios. Esse lugar é a cara do meu tio.
Saí do trem com as minhas coisas. Pedro me seguia atrás de mim. Foi quando eu senti aquele olhar de novo. Era aquela mulher. Ela estava me olhando de seu vagão. Reparei em suas vestimentas. Ela estava com um vestido preto e com uma luva gigante em seu braço. Seus cabelos eram loiros. Foi aí que eu me lembrei daquela coisa. Tentei ver algum tipo de semelhança entre as duas. Porém não tinha nada. Saí junto da estação com o senhor Pascal.
Tive uma visão melhor da cidade. Vários carros passavam pela rua. Tinha várias opções de lojas. Tinha um hotel na minha frente, escrito “Transilvânia”.
Me despedi do Pedro e desejei boa sorte para ele. Peguei um táxi e dei o endereço do meu tio. Aproveitei para descansar um pouco.
Capítulo 5 – A resposta
Acordei com um barulho de gritaria. Olhei pela janela e vi um pessoal dançando pela rua. O motorista me explicou que estava ocorrendo um evento de dança. Fiquei animada e olhei para as pessoas. Nem percebi quando o carro parou na frente de uma casa. Paguei o taxista com o dinheiro que sobrou. Saí do carro e apertei a campainha da casa. Uma mulher abriu a porta. Franzi a testa e olhei para o número da casa de papel e para o número da casa.
– Você deve ser Miranda? Entre, seu tio saiu e só volta mais tarde.
A mulher ruiva abre espaço. Ela pega as coisas de minha mão e sai andando pela casa. Não era uma casa, e sim um escritório. Várias mesas e papéis sobre a sala.
– Ele está em um bar aqui perto. Se não for urgente, pode esperar ele lá em cima. – Ela diz apontando para a escada.
– É urgente sim! Você pode me passar o endereço do bar?
Ela concordou com a cabeça.
Eu saí da casa e segui até o final da rua. Tinha uma pracinha com alguns brinquedos. Crianças estavam se divertindo e me lembrei dos outros três. Andei pela rua até que eu vi o bar, “Serigueijo”. Entrei nele e vi várias pessoas se divertindo. Em plena 4 da tarde. Vi meu tio sentado em um canto, cabisbaixo. Ele levantou a cabeça e me viu.
– Miranda! – Meu tio, Sérgio grita. Ele me pega pela mão – Até que fim! Ela já está chegando. Eu falei pra você ignorar.
– Ela? Ela quem? Você a conhece?! – Exclamei.
– Não fale nada! Espere sentada e fique calada! – Ele gritou a última palavra.
Me sentei na cadeira do seu lado. Minha perna começou a tremer e minha mão começou a suar. Pessoas entravam e saíam. Eu olhava pro meu tio tentando achar algum tipo de reação. O tempo foi passando e eu comecei a ficar cansada. Eu estava pronta para falar algo quando meu tio se levantou. Eu vi a mesma mulher do trem vindo em nossa direção. Meu coração gelou, não era possível isso.
– Foi você?! – Gritei olhando com ódio nos olhos dela. – Você fez isso comigo! – Meu tio tentava me puxar pelo braço – Você matou meu cachorro?
– Ele merecia! Ele pediu pra ser morto! Sua alma estava condenada a isto!
– Sua alma? Que tipo de monstro você é? – Minha garganta se fechou.
– Monstro? Eu te salvei! Seu cachorro era um demônio!
– Meu cachorro era o quê? Pare de mentir! – Todos do bar estavam nos olhando.
– Você não se lembra? Quem estava com você no acidente de carro dos seus pais? Quem estava do seu lado quando sua vó morreu?
– Você está mentindo! Fale, tio, fale para ela! – Gritei olhando para o meu tio. Mas sua cara já dizia tudo.
Minha visão começou a ficar turva. Eu ouvia vozes, mas elas começavam a ficar distantes. Senti alguém me segurando mas a escuridão foi mais forte.
– E foi isso… – Completei olhando para os meus amigos.
– Acho que tinha algo no rio pra você ficar assim – Sandie diz depois de eu contar a história.
– O tombo foi tão forte que você foi parar na outra realidade. – Letícia comenta.
Nós começamos a rir.
– Essa foi a melhor história que você já contou. – Júlio diz.
Ficamos falando muito, quando uma enfermeira chegou no meu quarto.
– O horário de visita acabou! Tenho que dar remédio para essa mocinha.
Ela aponta pra mim.
Meus amigos se despediram de mim e falaram que voltariam no dia seguinte. Adormeci e acordei com meu tio me acordando. Ele estava viajando e só foi me ver hoje. Contei para ele sobre a história do meu sonho. Ele riu e me chamou de genial. Talvez eu devesse mesmo investir nesse negócio de contos.