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Por Fernanda Lopes
Outro dia, estava conversando com um colega de trabalho que me disse, com um olhar de alguém que acabou de receber uma revelação: “Você já percebeu como a gente precisa estar ocupado o tempo todo para ser alguém na vida?” Eu olhei pra ele, pensando em como a obsessão por produtividade está se tornando uma verdadeira ditadura moderna. Parece que a simples ideia de parar, respirar e… não fazer nada, virou um pecado mortal. Eu fiquei ali, com a cara de quem não sabia se ria ou chorava. Porque, honestamente, quem nunca se viu na missão impossível de se manter ocupadíssimo enquanto, ao mesmo tempo, tenta achar um sentido real para tudo isso?
Estamos todos amarrados nesse sistema que prega que não podemos simplesmente ser, temos que fazer. E não fazer qualquer coisa, viu? Tem que ser algo grandioso, surpreendente, algo que gere resultados, que seja relevante, que… bem, que seja absolutamente tudo menos descansar. O que antes já foi considerado um momento sagrado de descanso, virou algo vergonhoso, como se estivéssemos fazendo algo errado por não estarmos em modo “produtivo” o tempo todo. Claro, na “era da produtividade”, aquele “momento zen” não tem lugar. O “não fazer nada” é um luxo que a maioria de nós nem se permite mais.
Antigamente, quando alguém dizia que precisava de um tempo para si, a resposta era “legal, vai descansar, se cuidar”. Hoje em dia, se você diz que está precisando de um descanso, é como se estivesse confessando um crime. Um crime contra o progresso. O ato de parar, de simplesmente não fazer nada, é tratado quase como um pecado mortal. Sério, você já tentou dizer “não, eu não tenho nada planejado para o fim de semana”? Parece que a pessoa na sua frente não sabe como reagir. Você pode até ouvir algo como “Ah, você vai descansar, né? Boa sorte em não ficar sem fazer nada!” – acredite, isso não soa como uma bênção, mas como uma sentença de fracasso.
Na minha cabeça, o “produtivo” virou um personagem mitológico. E, de algum jeito, ele está em todos os lugares. No trabalho, nas redes sociais, nas conversas de café. Todo mundo parece ter uma rotina que parece saída de um manual de performance máxima. Você já viu o tipo de dia perfeito que as pessoas compartilham? Acordam às 5h da manhã para fazer yoga, tomam um café da manhã que poderia alimentar uma pequena nação, leem cinco livros, malham uma hora ou mais por dia, sem nenhum dia de descanso durante a semana e ainda arrumam tempo para sair e dar atenção à família e aos amigos.Tudo isso com um sorriso radiante no rosto, porque, claro, a produtividade também tem que ser “feliz”, senão você falhou. Aí você, com cara de quem acabou de acordar e mal sabe o que vai almoçar, pensa: “Eu devia estar fazendo mais. Eu sou um fracasso.”
Fico pensando: quando foi que o simples ato de parar se transformou nesse sinal de fracasso? Quando a ideia de descansar virou um sinônimo de ser improdutivo? Porque, veja bem, você não pode simplesmente se dar ao luxo de sentar num sofá e, quem sabe, olhar pela janela por meia hora, sem que uma vozinha interna te cutuque: “Mas e o trabalho? E os documentos no Drive? E as tarefas domésticas? E a produtividade que você não está gerando?” Como se a sua validade como ser humano estivesse atrelada ao quanto você pode produzir, mesmo que isso signifique esgotamento mental e físico.
O pior de tudo é que essa busca incessante por produtividade é glorificada. Eu tenho uma amiga que, por exemplo, fez um curso intensivo sobre como “maximizar o tempo” e “acelerar os processos” (não, ela não está escrevendo o próximo livro do Harry Potter, ela apenas quer ser mais eficiente na vida). Ela tem uma rotina tão carregada de compromissos, compromissos esses que incluem “tempo para refletir”, “tempo para cuidar da saúde” e “tempo para desconectar” – claro, todos eles em um horário pré-determinado no Google Agenda. Se ela por um segundo se esquece de seguir a rotina rigorosa, parece que a vida dela entra em colapso. O culto à eficiência virou uma espécie de religião.
É claro, ninguém quer ser um fracasso. Todo mundo quer ser alguém, e isso, de alguma forma, se traduz em estar ocupado. Na sociedade em que vivemos, estar ocupado é ser bem-sucedido. Não importa o quanto você goste de sua rotina ou como sua cabeça esteja explodindo de tanto fazer. O importante é ter uma agenda cheia, sempre se movendo, sempre buscando o próximo projeto, o próximo objetivo. O descanso? Ah, esse é só para quem já conquistou tudo. Ou para quem, de fato, não tem o que fazer, o que, na lógica desse mundo, é basicamente sinônimo de ser invisível.
No fim das contas, estamos todos, meio que, presos numa maratona interminável, correndo atrás de uma linha de chegada que nunca chega. Quando você atinge um objetivo, pronto, lá vem outro, e outro, e outro. Como se a meta da vida fosse viver para trabalhar, e não trabalhar para viver. Eu, por exemplo, comecei a achar que a última coisa que vou conquistar na vida vai ser o direito de tomar um café sem me sentir culpada por não estar fazendo mais 15 coisas ao mesmo tempo.
Por fim, quando finalmente conseguimos aquele minúsculo momento de descanso, o que acontece? Começa aquele pensamento insidioso: “E se eu estivesse fazendo algo mais produtivo agora?” No final das contas, a nossa maior produtividade, talvez, seja aprender a dar uma pausa. Mas, convenhamos, isso é mais fácil falar do que fazer, quando a Ditadura da produtividade está sempre ali, batendo na porta e nos lembrando que, se não estamos fazendo algo, não estamos sendo nada. No fundo, a única produtividade que me interessa agora é a de estar em paz comigo mesma.
Fernanda Lopes – Jornal Choraminhices.