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Por Fernanda Lopes
Amar é um jogo complicado. É um negócio estranho, meio assustador. Às vezes, me sinto sufocada por um peso invisível – porque, no fundo, amar é estar sempre pisando em terreno instável, mesmo que tudo pareça sólido. Por mais que você queira confiar, acreditar que é recíproco, que a outra pessoa também está tão imersa quanto você, a dúvida sempre está ali, insistente. Pode ser que você se veja dando mais de si do que ela, pode ser que, enquanto você pensa nela o tempo inteiro, ela esteja, sei lá, se distraindo com alguma outra coisa, com a vida dela. E a gente fica ali, remoendo, imaginando o que o outro está pensando, tentando adivinhar o que está por trás do sorriso, do silêncio, de um simples gesto. E isso cansa. Cansa muito.
O tal do amor de verdade, é como uma planta que precisa de cuidados constantes, mas sem garantias de que ela vai florescer. E mesmo quando parece que floresce, vai que aparece uma praga, ou o tempo muda e tudo desaba? Só que, ainda assim, a gente insiste. Porque, no fundo, o amor se torna uma necessidade. A gente não escolhe, ele nos escolhe. E aí, a gente se entrega. Mesmo sabendo que vai ser um desafio colossal. E talvez, amar seja exatamente isso: um trabalho constante, uma aposta sem garantia de retorno.
E não adianta dizer “não vou criar expectativas”. Como assim, não vai? Claro que vai. A gente pode ser cabeça dura, mas não é de ferro. Vamos nos pegando imaginando cenários, pensando em respostas que a outra pessoa ainda não deu, antecipando situações que nunca vão acontecer. E quanto mais você tenta controlar, mais as expectativas crescem, uma atrás da outra, feito fileira de dominós prontos para cair. “Não vou criar expectativas” é quase uma piada que contamos para nós mesmos, e talvez seja uma das maiores mentiras que já inventaram.
Mas a pior parte é esse vazio que você sente, como se algo estivesse sempre por se completar. Porque, no fundo, não tem como saber exatamente o que a outra pessoa está pensando, sentindo. Você olha, analisa, busca sinais, mas o pensamento do outro é um enigma trancado a sete chaves. E aí começa o ciclo: será que eu sinto mais? Será que penso mais nela do que ela em mim? Será que estou um passo à frente nesse jogo de entrega?
É um exercício de confiar no que não se pode ver, e confiar, meus caros, é difícil. É um passo no escuro que, por mais que você tenha certeza de onde quer chegar, não sabe exatamente qual é o terreno abaixo dos seus pés. E, quando você percebe isso, o amor, que antes parecia tão leve, já virou um peso. Porque o que você sente não está em suas mãos. Não tem como controlar, e você sabe disso. Não tem como prever o que vai acontecer amanhã, nem garantir que a pessoa que você está amando hoje vai te amar da mesma forma, ou, no mínimo, no mesmo tempo.
Amar, de fato, não é um mar de rosas. Talvez seja um mar de cactos, de espinhos, de plantas que você nem sabia que existiam, mas que agora estão ali, te machucando e te lembrando que amar é, sim, um desafio colossal. E a gente vai navegando, tentando driblar o medo, ignorando o orgulho, e mesmo que seja difícil, exaustivo, até sufocante, seguimos amando – com expectativa, com insegurança, mas também com aquele desejo teimoso de que, talvez, tudo isso faça sentido no fim. Não há como viver sem amar.
Fernanda Lopes , Jornal Choraminhices.
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