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As discussões entre vizinhos sempre geram memórias inesquecíveis. Atualmente, com a comunicação instantânea via aplicativo de mensagens, os vizinhos tagarelam o dia todo e municiam ainda mais nossa memória com pérolas inestimáveis. Em meu condomínio o assunto predominante é sobre os pets: cada dia um motivo diferente para quem tem pet reclamar de quem tem pet, dizendo que o vizinho não recolhe os dejetos do animal. Via de regra são todos perfeitos, o problema são os outros, os filhos dos outros, os pets dos outros.
Apesar de os animais de estimação dominarem a pauta, vira e mexe surge algo novo para travar o celular de muita gente com centenas de mensagens, imagens, vídeos e figurinhas que ora tiram sarro ora reclamam (esporte preferido dos sedentários modernos).
Nesse tipo de interação as pessoas perdem o filtro, falam coisas que jamais falariam pessoalmente, mesmo quando se trata de falar de terceiros desconhecidos. Alguns exageram tanto que deixam escapar o ódio e a hipocrisia, senão a mera ignorância.
Uma das situações que me despertaram bastante atenção e me fez escrever este texto foi o caso do ninho violado. Foi compartilhada no grupo a situação e imediatamente choveram comentários indignados sobre quem seria o psicopata juvenil que teria feito mal ao bichinho. Obviamente que deixar filhotes feridos e sem ninho ou maltratar qualquer animal é ato que condeno veementemente, mas o que me chamou a atenção foi a reação das pessoas, os comentários indignados que para mim soaram artificiais.
Ao ver a indignação dos meus vizinhos, que clamavam por punição exemplar ao “psicopata juvenil”, lembrei de outro animal que aparecera no condomínio tempos antes. Este, ao contrário do pobre passarinho, não despertou compaixão de nenhum morador, os comentários pediam sangue. Muitos recomendaram que matasse o animal; já a indignação foi por um animal repugnante como aquele ousar transpassar os muros do seu reduto, que para muitos era uma fortaleza impenetrável e protegida. O animal em questão era uma cobra e foi severamente punida por ousar invadir o lar alheio.
Ao ver tanta gente se compadecer pelo passarinho a ponto de não parar sequer para cogitar os motivos da lesão do pobre animal eu me questionei sobre o porquê de o amor, a compaixão e a empatia de muitas pessoas serem tão seletivas, especialmente no que diz respeito aos animais. Mas infelizmente são seletivos também quando se trata de seres humanos de determinados grupos ou classes sociais.
Não seria perverso aprisionar um passarinho numa gaiola? Cortar as penas das asas de papagaios para eles não fugirem não seria perversão parecida a atirar uma pedra ou derrubar um ninho? Ou crianças que atiram pedra em passarinhos seria mais perdoável do que um adulto que arranca penas do animal e retira-o da natureza apenas para ouvir o seu canto e satisfazer seu ego?
Conheci muitas crianças que atiravam pedras em passarinhos (entre elas eu) e que nunca tiveram pensamentos perversos e conforme foram crescendo e tomando consciência desse ato, pararam e se tornaram verdadeiros protetores dos animais (todos eles). Amar os animais não é pegar um cachorro, colocar chuquinha, fazer franjinha, roupinha e brincar com ele como se fosse uma boneca, isso é egoísmo, ama a si mesmo tanto que não se importa de usar outro ser vivo como bibelô.
A criança que derrubou o ninho no passarinho precisa ser orientada e conscientizada pelos seus atos, mas o que dizer das pessoas que clamaram por matar a cobra ao invés de pedir que a protegessem para conduzi-la de volta a um lugar onde ela pudesse viver em paz? Amar os animais fofinhos, limpinhos e inofensivos é fácil, mas amar os peçonhentos, sujos e portadores de defesa contra predadores humanos é outra história.
JahMaycon – Jornal Choraminhices
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