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Coreia do Sul e o Cinema

O viajante ao viajar busca entende-se melhor a si mesmo e ao olhar o mundo em outras perspectivas. O autoconhecimento é ainda uma das facetas do longo processo que é a viagem em si.

Trata-se de uma fuga não declarada dos problemas familiares e cotidianos que azedam semanas e dias, e a fuga serve para isso, cada viajante parte em busca de uma aventura que possa viver em paz e tranquilidade durante alguns dias da sua vida.

A busca por aventura ou experiências agradáveis deve também fazer parte do pacote, é uma parte importante de todo o processo, é um esforço para sair da rotina, e requer planejamento e outros detalhes como preparar malas.Nesta coluna vou iniciar a tetralogia sobre o cinema sul coreano. A tecnologia e a linguagem cinematográficas foram criadas e desenvolvidas nos domínios de poucos países. França, Estados Unidos, Rússia, Alemanha, Itália, Japão e Inglaterra legaram ao mundo praticamente todo o know-how acumulado hoje pela Sétima Arte, tanto em narrativa quanto em técnica – gêneros, câmeras modernas, novas lentes, inovações em planos de captura, fragmentação das narrativas convencionais. A ruína soviética e o advento da globalização, todavia, pavimentaram estradas para novas escolas cinematográficas destacadas a partir dos anos 90.
Algumas escolas apareceram devido ao volume de produções, como a Índia (Bollywood) e a Nigéria (Nollywood). Outros países ganharam notoriedade pela qualidade dos filmes, dentro da proposta de cada um, casos da Argentina, do Irã, da Tailândia e da China (incluindo Hong Kong e Taiwan). Nenhum destes emergentes cinematográficos, de qualquer modo, conseguiu igualar a dimensão, a consistência, a popularidade, a heterogeneidade e a rentabilidade dos filmes produzidos na Coreia do Sul.
Os coreanos conseguiram romper barreiras geográficas e, não apenas aumentaram a audiência interna (mais da metade dos filmes vistos na Coreia são pátrios), como passaram a dialogar com um público global, fato demonstrado pelos mais de 120 milhões de ingressos vendidos fora das fronteiras nacionais em 2013 (5º país com a maior bilheteria acumulada no exterior). Para não mencionar a constante presença e premiações nos festivais internacionais de prestígio. Park Chang-wook, Lee Chang-dong, Kim Ki-duk, Kwong Tag-in e Hong Sang-soo passaram a ser laureados em Veneza, Cannes, Berlim e Nova York, onde se instalam os mais importantes festivais do mundo.
A produção audiovisual da Coreia do Sul, florescida como veículo de propaganda do Império Japonês durante a ocupação nipônica, depois convertida em canal de propaganda dos valores bem vistos pela ditadura local após a divisão do país, se beneficiou do relaxamento na censura estatal, consequência da queda do regime militar que governou a nação até os anos 80.
Com isso, uma nova safra de diretores, quase todos muito jovens e tecnicamente bem treinados, abriu mão do purismo nacional e trouxe à Coreia influências diversas dos mangás japoneses, dos longas-metragens de kung fu de Hong Kong, do Western Spaghetti italiano e, sobretudo, dos blockbusters da Califórnia. Os filmes coreanos se ‘hollywoodizaram’ em termos de estilo e práticas comerciais, mas mantiveram temas e sensibilidades locais, em outras palavras, ressignificaram gêneros cinematográficos sob uma ótica oriental.
Park Kwang-su, Jang Sung-woo e outros diretores coreanos mais autorais ainda gozam de maior liberdade criativa, com papel central na produção do filme, diferente de Hollywood, onde muitas vezes a produtora detém maior parcela de influência nos rumos e estéticas dos produtos. Eles gostam de misturar gêneros e tornam difícil a rotulação das películas, é comum ver elementos de comédia, suspense e ação misturados com muito bom gosto. Mesmo com produções autorais, o cinema coreano hoje é fundamentalmente comercial e criado para auferir lucro, sendo hoje pouco ou quase nada dependente de verbas públicas.
O governo de Seul teve papel fundamental no renascimento e independência do seu cinema local. A Crise Asiática de 1997 escancarou aos governantes no período Kim Dae-jung o imperativo da exportação para a revitalização da economia nacional. Com isso em vista, ajudou a divulgar os produtos culturais da Coreia fora da península, como o Kpop, as novelas, os jogos eletrônicos e o cinema.

Eles então desenvolveram o Korean Film Council (KOFIC) para patrocinar traduções de legendas, stands em festivais e viagens aos diretores, além de criar o influente Festival de Cinema de Busan. Em 1995, a Coreia do Sul exportou apenas 15 filmes, para, apenas uma década mais tarde, contar 202 filmes exibidos oficialmente no exterior. Seus executivos testemunharam um aumento de 365 vezes no faturamento com bilheteria fora do país no mesmo período.
Internacionalizados, os estúdios coreanos buscam novos e maiores mercados para que o faturamento acompanhe o aumento galopante nos custos de produção. Uma saída inteligente foi as parcerias com grupos estrangeiros em co-produções, onde dividem gastos de marketing e distribuição, além de permitir a penetração em mercados restritos como o chinês, possuidor de cotas para conteúdo estrangeiro. Você pode torcer o nariz para as versões americanas de Oldboy, Il Mare e My Sassy Girl, mas apenas isso viabiliza o crescimento da ainda frágil indústria cultural da Coreia.
O cinema da Coreia do Sul ainda é um nanico quando colocado ao lado de potências que iniciaram a produção audiovisual há mais de um século, mas é um caso de sucesso a ser estudado por todos os coadjuvantes que esperam um dia ganhar dinheiro com exportação cultural e reforçar seu soft power, uma prática dominada com maestria por nações como os EUA e o Japão. Este post introdutório é a ponta do iceberg composto quase exclusivamente por títulos pop, mas a tradição cinematográfica coreana é mais ampla. O Korean Film Archive faz o trabalho de curadoria e recomenda dezenas de filmes em listas como estas: 50 independente filmes, 100 coreanos filmes (até 1996) e 100 coreanos filmes (inclui os mais recentes). Como estratégia de divulgação, eles hospedam vários destes filmes no canal KoreanFilm do Youtube com legendas em inglês para assistir de modo legal.
Com um trabalho presente nas redes sociais, muitas informações sobre novidades e história do cinema coreano são compartilhadas com os anglófonos, por profissionais da área ou fãs, no site KoBiz e nas páginas do Facebook Korean Film Council, Modern Korean Cinema, Korea on the Couch, Han Cinema, entre outras. Fora a infinidade de blogs dos fanáticos pela cultura.Os coreanos sabem se vender muito bem, tornam o conteúdo deles acessível a todos que dominam a língua de Shakespeare. Os caminhos existem, basta querer viajar.
Para finalizar, devo humildemente reconhecer que eu sou um iniciante no assunto e há um pouco de pretensão em escrever um texto inicial a respeito de toda a produção cinematográfica de um país sem ter assistido nem uma centena de exemplos. Meu objetivo aqui foi introduzir o tema aos que desconhecem, estabelecer diálogo e aprender com os comentários dos fãs do cinema da Coreia.
Caro leitor nos acompanhe em nossas colunas e entre seus amigos divulgue-as durante os anos que passam ao longo do caminho. Até a próxima coluna , caro leitor.

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